segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Não basta reclamar! Revolte-se e se organize!


A revolta que não se organiza é sadia àquilo que seria sua causa de existência. Uma revolta tênue, de palavras bonitas, às vezes radicais, mas sem estrutura, ação coletiva, estratégias e proposta de se organizar para concretizar - ou mesmo caminhar rumo à concretização - das mais objetivas salientações de sua existência, é admirada e por vezes cooptada pelo poder instituído. Ela é interessante às elites dominantes justamente por não oferecer um perigo real aos pilares do poder e sedar os revoltados à pasmática inércia de contestar por contestar, mesmo que nascida da crítica ao poder instituído. 

A revolta sem organização e o revoltado abstenho rumam numa direção contrária à história que supostamente carregariam. Além de legítima a revolta é de fato necessária, assim como a sua organização é enfaticamente emergencial. Portanto, o nosso avanço na história só se dará quando, antes de tudo, nos organizarmos, avançarmos coletivamente na teoria e na prática, para que sejamos não 1, mas 100, sendo 100 dispostos e com objetivos comuns acumulando força o suficiente para criar um povo forte. 

Esse nosso fortalecimento popular se dá nas bases dos movimentos sociais, nas associações / organizações comunitárias, de bairro, no movimento estudantil, sindical, de luta por terra e moradia, de direitos humanos etc. Nesse sentido, para atuar nesse movimento social com a perspectiva de empoderamento popular, é necessária a construção de uma organização, de um agrupamento de pessoas dispostas com alguns acordos firmados em um programa revolucionário elaborado coletivamente. Programa este que nasça a partir de uma perspectiva horizontal de atuação direta dos organizados no movimento social, que paute as reivindicações, os objetivos e os meios de alcançá-los, de uma maneira que determine ações práticas a curto, médio e longo prazo e que todos esses pontos sejam norteados pelos princípios básicos da existência do homem livre: a solidariedade, a igualdade e a responsabilidade - os princípios do anarquismo. 

Mas que essa organização não confunda seu papel nas lutas, que jamais deve ser de vanguarda como muitas se dispõem. A organização não deve ser maior que o povo tampouco deve determinar o que o povo deve ou não fazer; o povo não deve ser anarquista ou ser submetido a uma ideologia política e aos acordos fechados de uma organização. A organização, norteada por sua ideologia, deve servir para impulsionar, fortalecer, e não para dirigir, centralizar. A proposta dessa organização e o sentido dela existir, que é o fortalecimento do povo, é justamente para que ele caminhe com suas próprias pernas na dura empreitada do processo revolucionário de modo que ele mesmo se erga contra as injustiças e transforme a sociedade. Não há outro viés transformador que paute o povo a não ser ele mesmo em luta. Um povo forte e solidário é naturalmente um povo que tem capacidade de decidir si mesmo seus rumos. A tarefa da organização é de fortalecimento, físico e teórico, deste povo numa relação de criação mútua do poder popular, e não de se sobrepor, de se portar como pastor dum rebanho, dirigente das massas. Essa organização deve estar entre o povo, no chão, e não acima, a frente. 

É em torno desses pontos que levanto a reflexão quanto à organização, seja ela no movimento social, seja ela no aspecto ideológico para atuar com propostas de longo prazo nesse próprio movimento social. O fundamental é se movimentar coletivamente. É necessário que nos disponhamos à luta e que nos organizemos para ela. Coletivamente, de modo autogerido, federalista e horizontal, pés no chão, caminhando humildimente luta após luta na perspectiva de construir o Poder Popular para a nossa emancipação. Assim a vitória nos parece mais real e concreta do que possamos imaginar quando nos estabilizamos e permanecemos na inércia da rebeldia desorientada, enfraquecida, que não oferece abalo estrutural aos pilares da dominação. 

Da crítica nasce a revolta, que se organiza e que se amadurece. Do amadurecimento surge a nova ética, a moral solidária de classe, que é o principal sustentáculo da luta pela emancipação. Então que nos revoltemos, nos organizemos, nos amadurecemos e que criemos uma relação de solidariedade de classe, para nos unirmos, derrotar aquilo que nos subtrai a vida e, assim, alcançarmos a verdadeira liberdade e justiça.