No texto "O Grande Outubro na Ucrânia", Nestor Makhno narra as atividades revolucionárias dos campesinos ucranianos meses antes do outubro de 1917. O espírito revolucionário manifestado pelo operariado russo em outubro já pulsava pelo sul da Rússia, onde, na Ucrânia, os campesinos rebelados se organizaram e se determinaram como protagonistas da organização social, triunfando sobre as forças conservadoras e reacionárias daquela região.
Ucrânia, março de 1917. |
Outubro ainda não havia ocorrido quando os camponeses, em inúmeras regiões, recusaram-se a pagar os impostos de arrendamento aos pomestchikis e aos kulaks, confiscaram-lhes as terras e o gado, em nome das suas colectividades, enviaram, em seguida, delegados ao proletariado das cidades para se entender com ele quanto ao controle das fábricas, empresas, etc., e estabelecer elos fraternos a fim de construírem , juntos, a nova e livre sociedade dos trabalhadores.
Naquele momento, a aplicação prática das ideias do "grande Outubro" não tinha sido adoptada pelos seus inimigos, e era muito criticada nos grupos, organizações, partidos, e seus comités centrais. Desse modo, o grande Outubro, na sua designação cronológica oficial, aparece aos camponeses revolucionários da Ucrânia como uma etapa já alcançada.
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Tanto estimamos a fé revolucionária e o orgulho manifestado pelos camponeses ucranianos antes de Outubro, como celebramos, também, e nos inclinamos diante das ideias, da vontade e da energia manifestadas pelos operários, camponeses e soldados russos durante as jornadas de Outubro.
É verdade que, ao tratar do passado, não é possível passar ao lado do presente, ligado de um modo ou de outro a Outubro.
Não podemos deixar de exprimir uma profunda dor moral pelo facto de, após dez anos, as ideias que encontraram a sua expressão em Outubro serem achincalhadas por aqueles, que em seu nome, chegaram ao poder e dirigem a partir daí a Rússia.
Nós exprimimos a nossa solidariedade entristecida por todos aqueles que lutaram connosco pelo triunfo de Outubro, e que apodrecem actualmente nas prisões e nos campos de concentração, cujos sofrimentos, sob a tortura e a fome, chegam até nós, e obrigam-nos a sentir, em vez de alegria pelo 10ª aniversário do grande Outubro, uma profunda aflição. [1]