quarta-feira, 1 de abril de 2015

primeiro de abril


Si la bala me da,
si mi vida se va,
bajadme, callados
a la tierra.
 
Las palabras dejad,
es inútil hablar,
ningún héroe
es el caído.
 
De tiempos futuros
será forjador,
ansiaba la paz,
no la guerra.
 
Si la bala me da,
si mi vida se va,
bajadme, sin más
a la tierra.
 
De tiempos futuros
será forjador,
ansiaba la paz,
no la guerra.
 
Si la bala me da,
si mi vida se va,
bajadme, sin más
a la tierra.
 
Música: Béla Reitniz
(canción republicana de la guerra civil española)

Bem que no 1º de abril a notícia do assassinato de nosso querido companheiro Baía, morador aguerrido da ocupação Vitória-Izidora, fosse mentira, apenas uma brincadeira sem graça de um falador qualquer.

Bem que no 1º de abril poderia ser mentira também o 51º aniversário do detestável golpe militar, que no mesmo dia, em 1964, instaurou além de uma ditadura sangrenta, elitista e fascista, uma verdadeira escola de tortura e repressão no Estado brasileiro, que vigora até hoje.

Bem que neste 1º de abril também poderia ser mentira que o Estado brasileiro está caminhando rumo à redução da maioridade penal, que no fim das contas vai lotar mais ainda as prisões, agora com mais jovens (mais jovens ainda!) negros, periféricos, abandonados pelo Estado no que diz respeito à garantia de direitos e de dignidade de vida, e abocanhados pelo mesmo Estado no que diz respeito à punição, encarceramento e violência institucional.

Bem que poderia ser mentira de 1º de abril esse sistema vicioso que cria a violência no seio do povo oprimido para condenar esse mesmo povo por aquilo que, no fim das contas, definitivamente não é culpa sua.

Bem que neste 1º de abril também poderia ser mentira que o Brasil mata 82 jovens por dia, sendo 63 negros.

Estranho, na realidade, é não ser mentira de 1º de abril as pessoas falarem que não existe mais racismo.

Bem que poderia ser mentira de 1º de abril a notícia de que a cada uma hora e meia uma mulher morre vítima de violência masculina no país.

Estranho também é não ser mentira de 1º de abril as pessoas falarem que não existe mais machismo.
Bem que poderia ser balela de 1º de abril o fato de que 10% das pessoas mais ricas concentrarem 40% da renda do país, enquanto no mundo, 1% concentra metade da riqueza e 50% mais pobres respondem por apenas 1%.

Estranho é não ser mentira de 1º de abril as pessoas falarem que não existe mais desigualdade e luta de classes.

Bem que poderia ser mentira as minhas lágrimas desta noite, o desespero de estar tudo errado, tudo andando rumo à deterioração, à desesperança, à falta de fé.

Mas ainda bem que não é mentira de 1º de abril que, apesar dos caminhos tortuosos, apesar da miséria, apesar das opressões, apesar das mazelas do sistema, ainda existe esperança. Onde há opressão, há resistência. Ainda bem que é mentira que vão nos sufocar quando nos enterram, como pensam que vão. Porque somos sementes. Vamos renascer. Vamos abalar o solo, fincar raízes, florescer e germinar. Colheremos nós os nossos frutos, que também somos nós. Ainda bem que não é mentira, nem de 1º de abril e nem de dia nenhum, que o lamento expressado neste texto não se resulta em resignação, em medo, em desespero, mas em mais determinação e resistência. Em disposição. Em solidariedade. Em memória.

E façamos que não seja mentira de 1º de abril e que não caia no esquecimento a memória do Baía, dos Baías, das Baías, desta cidade, deste país, deste mundo; pois a memória deles e delas é a nossa memória. Pois sem memória, estamos condenados ao silêncio. E é sobre o nosso silêncio que as mentiras se erguem, dissipam e se instauram como verdades, como leis.

Não esquecemos, não esqueçamos. Contra as mentiras, contra as leis, no caminho contrário ao que está aí, que é o caminho que indica o nosso coração. Sem desmobilizar, sem vacilar, sem se intimidar. Por um mundo novo. Seguimos!!!!