quarta-feira, 1 de abril de 2015

primeiro de abril


Si la bala me da,
si mi vida se va,
bajadme, callados
a la tierra.
 
Las palabras dejad,
es inútil hablar,
ningún héroe
es el caído.
 
De tiempos futuros
será forjador,
ansiaba la paz,
no la guerra.
 
Si la bala me da,
si mi vida se va,
bajadme, sin más
a la tierra.
 
De tiempos futuros
será forjador,
ansiaba la paz,
no la guerra.
 
Si la bala me da,
si mi vida se va,
bajadme, sin más
a la tierra.
 
Música: Béla Reitniz
(canción republicana de la guerra civil española)

Bem que no 1º de abril a notícia do assassinato de nosso querido companheiro Baía, morador aguerrido da ocupação Vitória-Izidora, fosse mentira, apenas uma brincadeira sem graça de um falador qualquer.

Bem que no 1º de abril poderia ser mentira também o 51º aniversário do detestável golpe militar, que no mesmo dia, em 1964, instaurou além de uma ditadura sangrenta, elitista e fascista, uma verdadeira escola de tortura e repressão no Estado brasileiro, que vigora até hoje.

Bem que neste 1º de abril também poderia ser mentira que o Estado brasileiro está caminhando rumo à redução da maioridade penal, que no fim das contas vai lotar mais ainda as prisões, agora com mais jovens (mais jovens ainda!) negros, periféricos, abandonados pelo Estado no que diz respeito à garantia de direitos e de dignidade de vida, e abocanhados pelo mesmo Estado no que diz respeito à punição, encarceramento e violência institucional.

Bem que poderia ser mentira de 1º de abril esse sistema vicioso que cria a violência no seio do povo oprimido para condenar esse mesmo povo por aquilo que, no fim das contas, definitivamente não é culpa sua.

Bem que neste 1º de abril também poderia ser mentira que o Brasil mata 82 jovens por dia, sendo 63 negros.

Estranho, na realidade, é não ser mentira de 1º de abril as pessoas falarem que não existe mais racismo.

Bem que poderia ser mentira de 1º de abril a notícia de que a cada uma hora e meia uma mulher morre vítima de violência masculina no país.

Estranho também é não ser mentira de 1º de abril as pessoas falarem que não existe mais machismo.
Bem que poderia ser balela de 1º de abril o fato de que 10% das pessoas mais ricas concentrarem 40% da renda do país, enquanto no mundo, 1% concentra metade da riqueza e 50% mais pobres respondem por apenas 1%.

Estranho é não ser mentira de 1º de abril as pessoas falarem que não existe mais desigualdade e luta de classes.

Bem que poderia ser mentira as minhas lágrimas desta noite, o desespero de estar tudo errado, tudo andando rumo à deterioração, à desesperança, à falta de fé.

Mas ainda bem que não é mentira de 1º de abril que, apesar dos caminhos tortuosos, apesar da miséria, apesar das opressões, apesar das mazelas do sistema, ainda existe esperança. Onde há opressão, há resistência. Ainda bem que é mentira que vão nos sufocar quando nos enterram, como pensam que vão. Porque somos sementes. Vamos renascer. Vamos abalar o solo, fincar raízes, florescer e germinar. Colheremos nós os nossos frutos, que também somos nós. Ainda bem que não é mentira, nem de 1º de abril e nem de dia nenhum, que o lamento expressado neste texto não se resulta em resignação, em medo, em desespero, mas em mais determinação e resistência. Em disposição. Em solidariedade. Em memória.

E façamos que não seja mentira de 1º de abril e que não caia no esquecimento a memória do Baía, dos Baías, das Baías, desta cidade, deste país, deste mundo; pois a memória deles e delas é a nossa memória. Pois sem memória, estamos condenados ao silêncio. E é sobre o nosso silêncio que as mentiras se erguem, dissipam e se instauram como verdades, como leis.

Não esquecemos, não esqueçamos. Contra as mentiras, contra as leis, no caminho contrário ao que está aí, que é o caminho que indica o nosso coração. Sem desmobilizar, sem vacilar, sem se intimidar. Por um mundo novo. Seguimos!!!!

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Dilma ou Aécio: mais uma vez engasgadxs no "menos pior"

Uma interpretação anarquista a respeito do segundo turno das eleições presidenciais de 2014


Diagnóstico PT x PSDB

Estamos diante de mais um segundo turno de eleições presidenciais entre PT x PSDB, o sexto seguido (1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e agora 2014). Este cenário, apesar de indicar em um primeiro momento a via do pragmatismo que propõe a "vitória de um(a) para a derrota do pior", para nós anarquistas indica a urgência de elevar o debate para um nível maior, para o patamar que o povo merece tê-lo em discussão, de forma menos rasa e imediatista e que contemple tanto as verdadeiras demandas de nossa classe quanto a crescente insatisfação popular para com as eleições, o que elas representam e a quem elas servem de fato.

Há basicamente duas opiniões "pragmáticas" que, além de rasas, são profundamente insuficientes (mesmo que por motivos diferentes): votar no Aécio para derrotar a Dilma ou votar na Dilma para derrotar o Aécio. A começar pelo primeiro. É preciso deixar claro que votar contra a Dilma (portanto, no Aécio), não seria o mesmo que votar em "algo melhor do que está aí", como vem sendo amplamente difundido em grandes mídias nada imparciais e discursos evasivos de pessoas muitas vezes desinformadas. O PSDB nunca foi e nunca será alternativa viável em nenhum aspecto na política deste país. Achamos fundamental fazer uma leitura séria e honesta quanto ao que cada partido representa no cenário político nacional, e também a que e a quem cada linha política se submete e serve.

O PSDB é um partido historicamente neoliberal e de direita, que levou o Brasil ao limite da exploração humana, financeira e de recursos no auge da era FHC. Submissão ao FMI, ao capital internacional e ao imperialismo ianque, privatização generalizada de empresas públicas, arrocho salarial, demissões, desemprego, corrupção, intransigência, pouco (quase nenhum) tato social e repressão caracterizaram o governo FHC. O neoliberalismo tucano já mostrou suas garras durante os anos 90, afundando o Brasil no lamaçal da dívida externa e na entrega de partes expressivas de nossas riquezas aos grandes monopólios financeiros através das privatizações corruptas. Ardeu as costas do trabalhador e das classes oprimidas de modo direto e enfático, quando nelas desmoronou o peso das crises dos capitalistas para que estas crises não atingissem estes seus verdadeiros culpados, preocupados com os seus lucros exorbitantes. A política do PSDB sempre foi pautada pela limitação e subtração de direitos do povo, evidenciando uma proposta profundamente elitista, racista, homofóbica e segregatória. A supressão de direitos e a falta de diálogo com a sociedade segue como fundamento da estrutura política tucana.

E com o Aécio não há nada diferente: o impacto de sua política neoliberal deixou profundas cicatrizes no estado de Minas Gerais. A atual dívida externa do estado, por exemplo, é a maior do país, R$9,47 bilhões. O sucateamento da educação pública foi uma de suas mais alarmantes guinadas contrárias ao povo trabalhador: dura repressão às greves dos professores, sua firmeza intransigente, censura e controle total da mídia e não cumprimento de acordos ou mesmo leis federais sobre salário e carreira foram alguns dos desdobramentos práticos de seu ufanismo neoliberal. Relatos de agressões a mulheres e de outras atitudes que evidenciam sua postura patriarcal, privilegiada e preconceituosa, podem muito nos esclarecer de quem estamos falando. Seu vice, a propósito, Aloysio Nunes, enquanto senador, votou contra a instalação da Comissão da verdade, contra a PEC do trabalho escravo (que, dentre outras medidas, propõe o confisco da propriedade dos que até hoje mantém trabalho escravo no Brasil), é o relator do projeto de lei que propõe a redução da maioridade penal e se afunda em denúncias de envolvimento com o esquema do cartel do metrô de São Paulo (governado por Alckmin, também PSDB).

Não há, de forma alguma, possibilidade de tal política ser alternativa, ser uma "boa nova" para "o que está aí". Aliás, muito dessa insatisfação generalizada para com o governo do PT, que cria esse discurso infundado e vazio "anti-petralha" se dá por uma articulação de grandes veículos de mídia que, alinhados aos grupelhos tradicionais de direita - PSDB, DEM, PP, PR, ruralistas, fundamentalistas evangélicos -, mantém uma artilharia pesada anti-PT nos grandes canais de comunicação.



Mas, por outro lado, também não é o PT a alternativa eficaz para a nossa classe oprimida e para a solução de suas demandas tão urgentes.

A começar com o Lula em 2002. Após derrotas desde 1989, finalmente nos anos 2000 o PT consegue eleger um operário ao cargo máximo do executivo do país. Com ministérios formados por nomes que lutaram contra a ditadura, pelas Diretas Já, que compunham movimentos sociais expressivos, que se reconheciam como de esquerda (ou mesmo extrema-esquerda), Lula publicava, em 22 de junho de 2002, a "Carta ao povo brasileiro", que, no mais, tranquilizava as elites temerosas com a vitória do operário sindicalista pelo partido vermelho naquelas eleições. Já nos primeiros meses, Lula tratou de firmar acordos e garantias para as classes mais ricas e privilegiadas que não haveriam mudanças estruturais no país. Garantiu e cumpriu. Não à toa, o presidente dos EUA, Barak Obama, o qualificou como "o cara". Muito abraçou para pouco apertar. Lula fez menos reforma agrária que o FHC (FHC – 43 mil famílias em 1995; Lula – 36 mil famílias, segundo o MST). Os bilionários investimentos nos bancos prolongaram a política de FHC nesse sentido. A deterioração dos aposentados no governo petista compôs a política de Lula. O aparelhamento dos movimentos sociais praticamente liquidou a possibilidade de intervenção crítica da sociedade organizada no governo petista: perdemos anos e anos de organização e mobilização, perdemos grandes movimentos sociais e entidades historicamente de luta para a intervenção governista em suas direções (operada em grande parte pelo PCdoB) para que somente por agora consigamos voltar alguma ter força no movimento social (ainda não tão expressiva) que paute criticamente o governo federal.

Mas se nem o Lula em 2002 fez-se uma alternativa, operando uma política sem substancia efetivamente transformadora naquele momento em que a grande maioria da esquerda e do povo trabalhador nutria esperanças por ter pela primeira vez eleito um operário por um "Partido dos Trabalhadores", depois dos duros golpes de uma Ditadura Militar, Sarney, Collor e FHC, a Dilma em 2015 é que não será. É correto destacar a importância dos programas sociais que foram implementados como o Fome Zero e o Bolsa Família; mas o que o PT definitivamente não fez foi caminhar pela via das mudanças mais profundas que eram e são necessárias para o povo. Em contrapartida, enquanto isso, já se passaram 12 anos de pactos e alianças com os mais nefastos segmentos neoliberais e reacionários do país. Paulo Maluf, Sarney, bancada fundamentalista evangélica, ruralistas, militares, doleiros e publicitários corruptos, banqueiros... foram alguns dos tantos "companheiros" com quem o governo federal se articulou e que ainda se articula. As consequências políticas destes pactos não estão de todo desalinhadas com a faceta política do PSDB e de seus aliados: só que, durante o governo petista, elas se pintam de vermelho e seguem seu rumo discretamente, mascarado, mas em ritmo acelerado.

O PT entorpece o país com o discurso de "país de classe média" - que a propósito está perdendo o fôlego. Cada vez mais, o que ocorre, são latifúndios mais concentrados, que além de explorar as/os trabalhadoras/es do campo segue dizimando os indígenas e minando as demarcações, riquezas mais acumuladas, bancos quebrando recordes de lucro, prédios, casas e terrenos abandonados ao bel prazer da especulação imobiliária, empresas lucrando com o trabalho precarizado e informal que não para de crescer... não há acúmulo e concentração de riqueza que se faça isolado no sistema de exploração capitalista. Se há, alguém está pagando por isso.

O PT se caracteriza por ser um governo neodesenvolvimentista por, dentre outros aspectos, distribuir crédito ao mesmo passo que não distribui a riqueza, amparado por um governo que intervém na economia nesse sentido, principalmente no campo social, mas que não está em completo desalinho com algumas medidas de caráter neoliberal. O crédito causa um efeito de ascensão social por conta da mínima ampliação de poder de compra que lhe é ofertado, o que sustenta a afirmação do surgimento e crescimento dessa nova classe média, que agora pode comprar mais. Em termos práticos, essa nova classe média tem a capacidade de se endividar durante anos para comprar o que o mercado disponibiliza com juros altos e cobranças quase eternas, o que estanca a possibilidade de um efetivo crescimento econômico familiar. O povo pobre é amarrado nas dezenas de meses de prestação enquanto o salário não contempla nem a metade do que é necessário para a dignidade humana. Mesmo os seus programas sociais, que inegavelmente garantiram o pouco para quem nada tinha, são programas que, se analisados com um olhar mais crítico, sem se furtar da honestidade, correspondem a um investimento muito inferior àquele que é destinado à amortização da dívida e às medidas bilionárias para salvar grandes bancos (que lucram entre 4 e 12 bilhões ao ano), por exemplo.

A renda não é distribuída, é a falsa sensação de ascensão que é massificada. O risco que o povo trabalhador corre por estar sendo submetido a essa política econômica-social é muito grande: muito se distribui crédito para pouca estrutura estável econômica daqueles que se endividam. Nessa situação, a inadimplência se sugere como um desfecho muito provável, como aponta a Coordenação Anarquista Brasileira, em sua análise conjuntural "Elementos da conjuntura eleitoral 2014":

"A não distribuição real de renda, ou seja, a socialização da miséria, gera índices de endividamento preocupantes, que prometem desacelerar o consumo de massas e o mercado imobiliário, com um grande risco desse endividamento se tornar inadimplência. [...] Já havíamos apontado em uma análise anterior que este modelo de crescimento não era sustentável, em seu sentido de gerar um ciclo de crescimento. Pois nota-se que desde que o PT assumiu, colocou em curso seu projeto neodesenvolvimentista, baseando-se no aumento da oferta de crédito e não da distribuição de renda, o que logicamente leva a população ao endividamento, estagnando, ou ao menos diminuindo a capacidade de crescimento."

E no trato com o movimento social, o PT parece ter aprendido muito bem com os seus antecessores tucanos - e até os militares. Aprendeu a prática da repressão, perseguição e criminalização, aperfeiçoando com novas táticas de ataque ao movimento popular implementadas, como o aparelhamento, o governismo e o peleguismo como amarras burocráticas na direção das grandes centrais sindicais e movimentos sociais. O que o PT legitimou, disponibilizou e executou durante as Copa das Confederações e Copa do Mundo, em defesa dos bilhões de lucro à FIFA e às oligarquias comerciais mais ricas do planeta, no sentido da repressão, fez regozijar os seus antigos inimigos, dentre eles os militares e os setores mais reacionários do país. Depois de o povo ser sumariamente agredido e reprimido nas ruas em 2013 e 2014, com a ajuda das tropas da Força Nacional, submetidas ao governo federal e por ele enviadas, a candidata Dilma tem como proposta de governo a continuidade dessa integração de repressão na pauta da "segurança pública", dizendo ter sido "um sucesso" a operação policialesca durante os megaeventos da FIFA. A repressão e criminalização aos movimentos de resistência contra a Copa do Mundo, o morticínio do povo pobre e negro nas favelas e periferias, a tortura como forma de investigação policial e a forma como a Comissão da Verdade foi criada e está trabalhando têm uma substância intragável que é transversalmente comum. Não há como aceitar que sob sua tutela foi criada uma "comissão da verdade" que é, no fim das contas, motivo de piada e chacota entre os generais reformados que estiveram no comando dos anos de chumbo, servindo mais para nos humilhar do que propriamente para resgatar e garantir a verdade, a memória e a justiça ao povo brasileiro.



Referente às questões raciais, de gênero e de orientação sexual, é inegável que houveram alguns avanços, como as cotas raciais - sendo, em verdade, conquistados por mobilizações do que propriamente ofertados pelo governismo -, mas também é inegável que não haja nada que aponte uma política focada na desestruturação dos preconceitos que são normalizados em nossa sociedade e que têm consequências drásticas nas vidas das pessoas. O machismo segue atacando as mulheres, psicológica, social e fisicamente, matando, estuprando e abandonando, apesar de leis como a Maria da Penha; mesmo com as cotas raciais que foram conquistadas depois de muita luta e mobilização das e dos negros, o racismo segue exterminando os jovens negros e pobres, sendo disseminado nos principais veículos de mídia, embarcados ora em discursos a favor de rigidez do código penal, da pena de morte, de polícias mais violentas nos morros, ora em brincadeiras que não sejam "politicamente corretas"; a homofobia também segue matando, discriminando, silenciando e invisibilizando a população LGBT, fomentada pelos setores evangélicos que formam opiniões através de discursos de ódio e violência na mídia e também no parlamento. Evidentemente não é um problema que surgiu no governo petista; mas também não é um problema que tenha prioridade em sua pauta de governo para ser devidamente combatido. O que se tem, nesse sentido, é a aplicação de pequenas reformas para que atenda de modo raso e mínimo algumas reivindicações destes setores discriminados e oprimidos, mas que não abre mão das alianças nefastas que o PT tem com os setores que executam essas opressões e delas se privilegiam.

Eleição é farsa

Fato é que as eleições não têm poder transformador nenhum: elas estão invariável e estritamente à disposição do poder econômico e oligárquico, patriarcal e branco que vigora no Brasil há centenas de anos. Assim como o PSDB, o PT não governa para ninguém a não ser os grandes financiadores de suas campanhas, as grandes oligarquias capitalistas do campo e da cidade, as mais altas patentes militares e os mais poderosos chefes religiosos. Mas também é fato que não há governabilidade neste país se a situação no governo não dançar conforme a música. Os donos de sempre não disponibilizariam uma estrutura que tivesse capacidade de recuar suas regalias, seus privilégios e a manutenção de seu poder e domínio no país. Apontar propostas de mudanças estruturais de dentro do sistema é selar a sua exclusão sumária, justamente por este sistema ter sido muito bem elaborado para frear, blindar e sucumbir novas posições que eventualmente surjam em seu interior com objetivo de tocar nos privilégios enraizados no Brasil.


Reconhecer a diferença entre PT e PSDB é uma atitude sã e responsável. Mas é preciso também reconhecer que não se tratam de governos diferentes no que se refere à luta de classes do país. São, na realidade, roupagens diferentes para uma orientação comum, que é a governabilidade para o capital, sob a tutela dos de sempre de cima, oferecendo nada ou quase nada de efetivamente relevante para as/os de baixo que têm tantas urgências e necessidades. Os governos em questão não variam quanto aos seus objetivos: não governarão para o povo, fazendo o possível para que tal verdade se mascare para domar a opinião pública, seja pela manutenção de programas sociais já estabelecidos, seja por clamar votos por ser a "via menos pior". Se a Marina tanto problematizou a questão da "dualidade" da "velha política", propondo uma "nova política", ela estava correta quando se referia à "velha política", mas equivocada por estabelecer dois lados antagônicos, quando se refere à "dualidade". Não existem dois lados antagônicos neste jogo, tampouco três, caso ela se insira como "alternativa" no contexto: todos miram, inclusive o dela (que agora está com o Aécio), para o objetivo comum de dar continuidade à exploração e dominação de sempre. Todos compõe essa velha política, esse jogo enganador e viciado, essa estrutura de centralização de poder e canalização das velhas mentiras conhecidas.

Portanto, é preciso reconhecer também que precisamos de um basta, de sair dessa situação desgastante e humilhante em que temos que escolher com qual o molho está menos estragado para que sejamos devorados nos próximos anos. Tal citação de Eduardo Galeano exprime com rigor a realidade. O povo trabalhador merece dignidade e respeito, o que não virá de forma alguma das eleições. Elas, pelo contrário, representam o que há de pior nesse sentido para o povo oprimido: além de não pautarem as nossas verdadeiras demandas e necessidades, os pretensos representantes nos levam à chantagem de termos que escolher o menos pior do que temos para hoje. Tal situação indigna deve ser rechaçada e amplamente combatida pelas camadas populares.

Temos que sair desses constantes xeque-mate, dessas permanentes sinucas de bico que eles nos impõe de dois em dois anos, tendo que nos resignar e escolher quem, no fim, nos faria fazer sofrer menos durante os próximos quatro anos. Ainda que ideologicamente devemos atacar esse engenho espoliador e ilusório de uma vez por todas, deslegitimando e lutando contra esse sistema e o que ele nos oferece, construindo pela base e fora das eleições o nosso programa de lutas para colocarmos as nossas necessidades no foco central da atividade política, como também para que possamos efetivamente ruir essa estrutura montada e muito bem estabelecida. Enquanto estamos limitadas e limitados na situação de escolhermos o menos pior, o sistema se retroalimenta ideologicamente, segue se legitimando e nossas urgências são deixadas pra trás. E são várias, a saber: Moradia, reforma urbana e direito à cidade, saúde e educação de qualidade, trabalho, salário digno, luta contra as opressões (o machismo, racismo, homofobia), terra e reforma agrária, transporte, direitos humanos, meio ambiente e cuidado da natureza, previdência... Um programa que contemple essas pautas que são diárias na vida dxs oprimidos não será, jamais, desenvolvido e aplicado nas instâncias representativas do Estado.

Do jeito que está, além de nunca serem pautadas as nossas reais necessidades, assim permanecerá se continuarmos a legitimar essa via burguesa e nada representativa. Eles têm o poder da chantagem de "ou eu, ou ele(a)", que subtrai as propostas ao possibilismo e esgota a capacidade de inserir as nossas questões que realmente interessam na agenda política, estancando a possibilidade de avanços reais para a nossa gente. As eleições têm seus caprichos: sempre, ou quase sempre, teremos um representante da direita (ou mesmo extrema-direita) disputando os cargos mais altos, como a presidência; Portanto, a questão que se faz central é: quando findará essa chantagem de termos de ir votar no menos pior, porque "a atual situação nos impõe tomar tal medida para 'frear a direita'"? E se há certa inserção das ideias da direita em setores expressivos da população, que proporcionam ao candidato estar em patamares ameaçadores durante a eleição, o que mais nos evidencia é a necessidade de fazermos combate ideológico firme nos nossos espaços de militância e de vivência, no sentido de frear, diariamente, a partir do cotidiano das lutas e das relações pessoais e coletivas, o enraizamento das posições reacionárias em nossos meios. A nossa palavra de ordem "política se faz nas ruas" se aplica sobretudo nesse caso, que se orienta pelo nosso princípio básico de que é melhor um passo com o povo do que mil sem ele. Somos revolucionárixs e por isso compreendemos que a capacidade de transformação radical só se dará a partir do povo organizado em luta e resistência, praticando e semeando princípios libertários no seu dia-a-dia. Desse modo, construir um mundo novo no agora, nas nossas atuais relações de luta e de vivência é, além de imprescindível, o que pode frear com eficácia o avanço da ideologia burguesa nos nossos meios, forjando, em contrapartida, valores de solidariedade, apoio-mútuo e respeito.

Tentam nos domesticar quando enfatizam que "não podemos deixar de reconhecer que política também se faz pelas eleições, pelo Estado". Na realidade, devemos ter clareza do que o Estado e as eleições realmente representam em nossas vidas e nos posicionarmos enfaticamente contra essas armações. O Estado surge para estabelecer, concentrar e perpetuar o poder em suas mãos, e disso ele não foge: tentar mudar algo "por dentro" é a via mais equivocada que poderíamos adotar - e quem nos comprova é a história. Não podemos nos furtar de nos posicionarmos contrárias e contrários ao que está aí para nos explorar e dominar: se há um motivo de estarmos do jeito que estamos, resistindo aos trancos e barrancos enquanto poucos detém o privilégio da tranquilidade e da riqueza, é porque o sistema de Estado e capitalista se legitima e se fortalece a partir de sua força física e ideológica. Devemos ter atenção e cuidado nas nossas decisões e posicionamentos para que não nos transformemos involuntariamente em auxiliares ideológicos do sistema para fortalecê-lo, enquanto pensamos infantilmente que estamos lutando contra ele. Devemos como princípio negar suas instituições e suas formas de existência representativa para fazermos uma luta realmente independente e capaz de transformar. Se não é a via independente e potencialmente revolucionária, que arranque do Estado as conquistas mas que não o reconhece como "viável" ou mesmo "mais um caminho", não existem vias que tenham formas, traços e características realmente populares, que de fato as representam e proporcionam alternativas e caminhos para avançar.

Dentre o povo, essa sensação vem sendo sorrateiramente percebida, mas ainda muito dispersa e despolitizada. A descrença no sistema representativo, nas eleições e no governo vem se tornando mais contumaz. Não à toa, mais de 30% do eleitorado do Vale do Jequitinhonha, provavelmente a região mais pobre de Minas Gerais, absteve-se do voto. O Brasil de um modo geral não foi diferente: o "segundo colocado" nas eleições, com 38,7 milhões, foram os votos nulos, brancos e abstenções, tendo o norte e o nordeste (além do Rio de Janeiro, um dos principais palcos das revoltas de 2013 e 2014) como as regiões que mais contribuíram para esse caldo. Mas o nulo pelo nulo, a abstenção pela abstenção definitivamente não resolve nada e, em alguns casos (em sua maioria por desinformação), exprime conclusões equivocadas. Mas esse contexto deve ser explorado com afinco pela esquerda revolucionária e independente, no sentido de permear luta e dar um sentido real e material a essa insatisfação, discutindo fundamentos e motivações para a abstenção ao voto e quais as vias que o povo tem à disposição para realmente fazer política e de criar condições de reivindicação, enfrentamento e vitória no contexto de luta de classes.

O Poder Popular

O que nos resta, portanto? A luta popular organizada, contínua, independente e de ação-direta. Todos os direitos que temos hoje em dia, mesmo que muitos sejam ainda escassos e defasados, foram conquistados, e não doados; foram garantidos por lutas, greves, piquetes, manifestações, ocupações, marchas, e é desse modo que temos chances de avançar em nosso programa. Independente da face tomada pelo governo a partir de 2015, 2017 ou qualquer outro ano de posse de novos enganadores e usurpadores do povo recém-eleitos, devemos seguir organizadxs em nossos locais de moradia, trabalho, estudo, construindo a nossa luta, fazendo política com as próprias mãos, a partir da democracia de base e da independência política. Fomentar auto-organização e autogestão, estimular a solidariedade e consciência de classe, articular lutas desarticuladas e integrar as diversas demandas do povo entre todos os segmentos, setores e categorias em luta, enfrentar com empenho e ação-direta o Estado e o capital na luta por direitos e por uma nova sociedade, é a estratégia que de fato nos atende no campo político da luta de classes; Criar Poder Popular, em termos mais exatos, para que possamos fazer força contrária às forças aí estabelecidas que maquiam o Estado de dois em dois anos, através da farsa eleitoral e das promessas ultrapassadas.

O Poder Popular é o decisivo: para não cairmos na humilhante resignação e adaptação de nossas urgências à escolha do menos pior, limitando, esvaziando e calando as nossas vozes, forças e opiniões, elegemos o Poder Popular como o nosso permanente e verdadeiro capacitado para as conquistas de nossas pautas, para arrancarmos vitórias no enfrentamento da luta de classes e para caminharmos para uma nova sociedade, que não esteja fundada na mentira, na chantagem e na ludibriação mascarada de representatividade, mas sim na solidariedade, na democracia-direta, no socialismo libertário.




sexta-feira, 20 de junho de 2014

A naturalização do estado de exceção e a pauta do dia: "NÃO À REPRESSÃO!"

PM cerca manifestação: dificulta a entrada, só se pode sair; tática de repressão, medo e desmobilização.

O que o Estado vem fazendo nas ruas e nos movimentos populares está extrapolando todos os limites imagináveis. O limite constitucional, o limite moral, o limite da sanidade, do senso da realidade. Vem se naturalizando cada vez mais um Estado policialesco e excepcionalmente repressivo. Vem se tornando normal tiros e bombas a esmo, jatos de spray de pimenta nos olhos de pessoas agressivamente mobilizadas, falta de identificação, arrogância e sadismo dos militares, algemas de lacre, tiros letais, supressão de direitos de se organizar e se reunir etc. Isso além da violência policial cotidiana nos morros, bairros periféricos e favelas.

Nos referíamos em tempos anteriores a "estado de exceção" como algo vago, algo aquém, algo distante da realidade que porventura vivíamos: nos referíamos a "estado de exceção" quando a PM nos impedia de ocupar todas as faixas de uma rua. Falávamos em repressão quando podíamos fazer manifestações para que então a PM pudesse nos dispersar. Mas chegamos a tal ponto que hoje nem sequer manifestações conseguimos fazer; que hoje é rotina acatada a montagem de um aparato de 10 mil militares para uma manifestação de 1 mil pessoas, todos aqueles sobrecarregados de armas e bombas; chegamos a tal ponto que hoje as manifestações são cercadas, encurraladas, integralmente isoladas em um pequeno ponto, incapazes de se movimentar, sendo que para o acesso a elas é necessário revistas muitas vezes hostis e ameaçadoras por parte dos policiais.

Não podemos nos reunir nas praças, que temos a presença de dezenas de viaturas policiais nos cercando; não podemos requerer direitos constitucionais, principalmente quando os requeridos são os policiais, sem que sejamos ameaçados, estapeados ou presos; não podemos filmar as ruas sem que sejamos presos e torturados nas delegacias ou quartéis; não podemos nos organizar sem que sejamos enquadrados no crime de formação de quadrilha, ou mesmo de milícia, pois o judiciário também é parte grande desta ampla estrutura de repressão; nestes tempos, ao povo que quebra vidraças - ou que nem chega perto disso - a lei é pesada e sinistra, enquanto às centenas de casos de violência e abuso policial o silêncio e o cinismo são atemorizantes como olhos sanguinários de abutres mirando carne podre. Assim, dessa maneira, os crimes de Estado são ora normais, ora não divulgados. Se eles já fazem o que fazem publicamente, sem pudor algum, filmados por pessoas e imprensa de todo o mundo, mal podemos imaginar o que fazem escondidos.

Vivemos em um estado de sítio, stricto sensu. E há toda uma gigante e nefasta mobilização por parte das mídias para naturalizar o atual estado das coisas. Com efeito não vivi os tempos de 64, mas quando ouvi Roda Viva pela última vez, nesta semana, a música nunca fez tanto sentido pra mim. Eles detém a impunidade - que, apesar de não gostar deste termo, é o que me cabe no momento -, completa e irrestrita. Chegamos a tal ponto que sentimos medo e receio por pensarmos diferente e querermos algo melhor.

No sábado vibramos quando a polícia nos conduziu da praça sete à praça da estação, depois de ficarmos mais de 6 horas encurralados. Se antes diziam que a derrota do movimento era o cerco da PM, a comemoração pela deixa da PM liberando o trecho que lhe era conveniente tornou-se a pior das derrotas. Ali o movimento simplesmente naturalizou o cerco e a repressão, conforme o sistema quer: nos cercaram, ditaram nossos passos e, encurralados, seguimos rumo ao local desejado pela polícia, como se fosse isso tudo muito normal. Naturalizamos a repressão de tal modo que a simples deixa de irmos a um local determinado pela polícia fora visto por vários ali como conquista da nossa luta.

Referem-se aos "atos de vandalismo" como os hediondos crimes que justificam os atos ilegais, em todos os sentidos, cometidos pelo Estado. Nota-se sobremaneira que o Estado não está minimamente interessado em garantir a aplicação de suas leis, sobretudo aquelas redigidas sob a auréola da Constituição; que, portanto, nem mesmo o Estado opera de acordo com os ditames que lhe conotam eventual fundamento e sentido de existir. Percebe-se, desse modo, sua destreza em açoitar suas instruções legais em serviço do seu verdadeiro significado de existência: garantia da ordem dos ricos e para os ricos. De nada servem, portanto, as leis, se quem as opera é o Estado, e se a quem ele cumpre serviço definitivamente não é ao povo, pelo contrário.

Trata-se de uma crise da máscara da democracia que vem se aprofundando, de certa maneira; não a democracia brasileira, mas a própria democracia. Mesmo que acobertados sob o grande amparo da mídia em neutralizar as reflexões e as críticas dos telespectadores, e, assim, naturalizar o estado avançado de repressão instituído, o que significa ainda uma ampla aceitação/acomodação popular perante a política fascista que se desenrola a partir dos governos, a grande questão é que a democracia capitalista é uma contradição em si mesma. Não há direitos quando interesses de classes estão em jogo. Não há, eles são a raiz da desigualdade. Enquanto o povo segue manso o seu caminho de labuta e trabalho, a democracia se embeleza e se perfuma. Quando o povo ousa se organizar e atacar certas raízes da contradição, a democracia veste farda e bate continência.

O que temos para hoje é compreendermos o atual momento e não nos deixarmos subtrair a capacidade permanente de perplexidade, como nos atentou Helena Greco. Devemos nos organizar em nossos espaços de luta e ampliar as nossas campanhas contra a repressão e as coisas como estão hoje. Talvez, com efeito, a tendência é que ao fim da Copa o aparato repressivo montado seja parcialmente reduzido. Mas pudemos perceber/presenciar um pouco da capacidade da PM quando a ordem do dia é "reprimir!". Nestes tempos, cada vez mais que nos resguardamos à individualidade da reflexão e da ação, mais distanciamos de avanços e conquistas mais expressivas, bem como de uma segurança coletiva extremamente necessária para o momento. Nos atentemos a estes pontos e os trabalhemos coletivamente, porque a luta não pode parar.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A estratégia de guerra desleal e as mentiras da ponte pra lá e a necessidade de União, Organização, Solidariedade e Combatividade da ponte pra cá: 100% ANTICOPA

Tentam nos impor derrotas antes mesmo de junho. Estão desesperados, mas sabem se desesperar estrategicamente. Já conhecem, pelo gosto amargo que provaram ano passado, nossa revolta e nosso poder. Nos chamam de terroristas, de vândalos, tentam nos separar uns dos outros, tentando fazer-nos repetir tudo que repetem insistentemente na grande mídia, quando separam os "baderneiros" dos "manifestantes". E separam em todo momento. Já podemos suspeitar quando a grande mídia repete feito papagaio alguma coisa que está em voga na opinião pública, num debate aberto na sociedade; geralmente existem segundas intenções, tem malícia no jogo. Tentaram subtrair nossa força quando inocularam mil e uma pautas vazias para silenciar as nossas próprias, aquelas de onde as nossas manifestações surgiram mergulhadas e enfurecidas, que ardem o nosso couro diariamente. Nisso eles tentaram enfiar-nos guela abaixo "fora corrupção", "fora Renan Calheiros", "fora corruPTos", quando o que nos lançava às ruas era o não aumento (e redução) da tarifa do transporte público (o que se ampliou para o fim da repressão, fim da truculência da PM e inevitavelmente em muitos momentos o fim da própria PM - depois das cenas de horror e de violência policial).

O horror é protagonizado pelo lado de lá, por eles, por seus agentes raivosos que vos defendem babando fúria e destruição. Por isso nos jogam bombas, nos dão tiros, nos dão pauladas, nos humilham e nos olham como se fôssemos bifes suculentos para um cachorro esfomeado, ou mesmo como se fôssemos ratos para um gato caçador. E foi por isso que nosso movimento multiplicou-se grandiosamente; e é por isso que não tem dessa de "PM é amiga do povo". Quem ousa falar isso em uma manifestação de junho não percebe o fator que levou milhões (inclusive ele mesmo) às ruas. São eles que nos aterrorizam, que nos impõe duros golpes, quase sempre fatais.

Apelam para a filosofia militar de guerra tanto nas ruas, com a PM nos tratando como inimigos mortais, assassinando pretinhos na favela e soltando bombas em senhores de idade na Antônio Carlos, como também na investida midiática que nos impõe, baseada no medo e na mentira, apelando para um jogo de terror desleal. Soltam notícias sobre "os black bloc", quem são, quantos são, de onde surgiram e quais armas usam, estão repetindo a expressão "vandalismo" em todas as oportunidades possíveis que envolvam alguma confusão, quaisquer que sejam as circunstâncias, e agora temos percebido a nova onda de matérias e manchetes que divulgam quão forte está ficando o aparato repressivo do governo, o quão estão investindo em polícias, em tropas, em armamentos, e quão estão dispostos a nos fazer sangrar.

Eles são espertos, já têm habilidade nesses casos, pois já estão embarcados nessa lógica de guerra desleal, de atacar e eliminar quem quer que seja que esteja no vosso caminho, atrapalhando seus negócios, seus lucros, vossa condição estável de dominadores, em ações e movimentações desproporcionais, jogando sempre sujo, por meio de calúnias, mentiras, manipulações e terrorismo psicológico. Nada difícil ou desconhecido para eles. São eles, afinal, os promovedores de guerras; financiam e defendem na opinião pública as grandes guerras imperialistas e as guerras ao "inimigo interno". Eles gostam disso, pois só assim sustentam repressivamente sua dominação sobre a nossa classe em todo o planeta. Os pilares de vosso império cheiram o sangue de nosso povo derramado pela história.

Querem com essa jogada de terror nos retirar das ruas. Querem que sintamos medo, tanto de nós mesmos quanto deles próprios. Se há algum terrorista nesta história não são os jovens encapuzados que jogam pedras em lojas de ricos ou em bancos, ou mesmo que ateiam fogo em sacos de lixo nas ruas. Se há algum terrorista nessa história são eles próprios. Genuínos terroristas, da pior espécie: desleais, manipuladores, mentirosos e sanguinários, que detém o monopólio da violência e da tortura no Estado.

Já chamaram a nós anarquistas de terroristas em diversos outros momentos na história. Todos que ousam lutar contra eles, resistindo aos ataques da repressão com o punho firme, dão um jeito de criminalizar. Sensibilizam a opinião pública para algum discurso demagogo e enganador, para então tocarem nessa ferida nos empurrando como os grandes vilões, os grandes causadores da discórdia e da balbúrdia. Em nome da organização de vossos lucros, da manutenção desse sistema que os sustenta sobre a gente, eles impõe à sociedade, aos pobres mais dolorosamente, o desastre. Nós é que somos vítimas da violência do capitalismo - tanto da desigualdade quanto da violência fruto da desigualdade, enquanto eles é que desfrutam das ações milionárias, das obras superfaturadas e dos nossos conflitos internos.

É permanentemente urgente continuarmos com nossa construção de Poder Popular para reagirmos e resistirmos aos ataques dos desgraçados. Eles amparam, a tiro e a bomba, a extorsão da FIFA sobre o nosso povo. No Uruguai, no México, como em outros países, os desgraçados que roubam nosso suor e entregam às empresas multimilionárias gringas nos sapecando chumbo e borracha são conhecidos como "vende-pátrias". Sigamos com força, com determinação, garra, punho e dentes apertados, dispostos a triunfar ante a repressão, a exploração e a mentira, ante aos interesses do capital e seus meios pérfidos de defendê-lo. Sigamos na luta diária de criar um Povo Forte, capaz de reagir com suas próprias mãos ao ataque do maldito explorador, do imperialista. Já resistimos e nos mostramos fortes ante aos ataques dos militares nas ruas de BH, sigamos repudiando e buscando desconstruir a mentira e a falsidade que se infestam nas tevês, nos jornais, nos rádios, que servem como pilares para a massificação da opinião pública. Quebremos esses pilares, destruamos suas estruturas ideológicas e materiais para construirmos a verdade, a sua estrutura sincera e verdadeiramente democrática, popular.

Essa Copa representa ao povo a brutalidade, o despejo, a ironia, a pilantragem, a extorsão. Vamos às ruas em junho com a determinação de barrar a Copa do Mundo, de barrar a gargalhada deles, que se divertem com o nosso choro engolido, choro que precisamos engolir porque na segunda-feira temos que ir trabalhar para que não morramos de fome. Que barremos a Copa, que nos organizemos nos movimentos sociais, empoderando-os, fortalecendo-os, para fortalecer e empoderar as instâncias políticas e sociais onde o povo se enxerga e se representa, se constrói, se articula. Busquemos a Organização Popular. Busquemos a mudança profunda na sociedade, pois somente a partir de uma mudança profunda que o jogo vira pro lado de quem produz e nada tem - nada além da exploração, fome e repressão. E só o povo, o único interessado em tomar pra si o que de fato é seu, e que lhe é roubado todos os dias, pode tomar. Só o Povo Forte pode transformar.

 

Às ruas! À luta! À organização! Não se intimidar, não desmobilizar! Rodear de Solidariedade tod@s que lutam!!

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O vermelho do povo não é de papai noel. À militância!

O vermelho do povo não é de papai noel...

Pelo fim da falsidade do Natal e, em contrapartida, por um estado permanente e REAL de solidariedade, companheirismo e amor ao próximo. Não é de oração por oração que o povo esfomeado, que o povo sem casa, que o povo bolado e puto com essa porra toda precisa. Também não é com caridade natalina que se muda o mundo. Importante? É! O povo, afinal, precisa comer, bem como pra muitos a oração tem um sentido positivo, um valor fundamental. Mas não bastam as orações, nem mesmo os atos de caridade isolados, sobretudo aqueles que mal cheiram preconceito, ódio e falsidade, onde o ano inteiro de desprezo e descaso estiveram inundados. Definitivamente não bastam! 

Pra mim, esse estado permanente de solidariedade, de companheirismo e amor ao próximo se chama militância, e não natal. O natal é uma data que no fim das contas serve para massagear o ego de muita gente - que, a propósito, se afunda em dívidas. É uma data importante pro capitalismo fazer com que milhões de pessoas que o sustentam sem querer sintam mais "humanas", mais solidárias. Isso porque o capitalismo sabe que ele não é humano, que os valores mais genuinamente humanos e solidários não têm frutos em seu vasto solo podre. E a humanidade precisa de humanidade. Pra isso serve o natal. Um exemplo prático e simples, a Igreja, que existe há dezenas de séculos, sustenta o natal, mas nunca quis mudar o mundo. Nunca moveu um dedo para que isso ocorresse, mesmo falando em "ajuda aos pobres". A solidariedade deve sair da tutela do sistema e vir pra nossa. Pra nossa tutela transformadora. É em nosso seio, nesse seio que precisa e anseia transformação, que a solidariedade mais vibra, mais tem sentido e mais se faz necessária. Se quisermos mudar, devemos agir em função disso, de modo incisivo e determinado. Por isso, faço uma convocação, pessoas todas que puderem ver esse post nesse 24 de dezembro de 2013:

Nós que nunca havíamos nos movido para tentar mudar algo, que nos dediquemos à militância a partir de 2014; Nós, que já estamos na labuta de transformação social há um bom tempo, que façamos desse 2014 um ano ímpar nessa empreitada, mais um ano de reafirmação de nosso compromisso; Nós, que não somos donos de nada, inclusive não inteiramente de nossas vidas, façamos que sejamos donos ao menos dessas nossas vidas que nos foram (são) roubadas todo dia. Expropriemos nossas próprias vidas à nós mesmos, furtando-as da lógica de mercado e de apatia e jogando-as à determinação e garra militante, para que, além de conquistarmos elas próprias, conquistemos verdadeiros ganhos e frutos para a construção do mundo da solidariedade, eliminando cotidianamente o mundo da ganância e da mentira.

As orações, as caridades, as místicas, eles cabem na militância. E vou dizer ainda: combinam muito mais com a militância do que com uma reunião em frente a um peru e em torno de uma árvore colorida com presentes.

Que a militância tome o valor que o natal tem para si própria. Isso porque é preciso mudar o que vivemos, onde vivemos. É urgente mudar. Que nossa prática tome de assalto o sistema e suas datas medíocres. Que nossa prática tome de assalto nossa vida e a organização dela do sistema e de seus ditames horríveis.

Por mais militância e menos natal, esses são os meus votos!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Não basta reclamar! Revolte-se e se organize!


A revolta que não se organiza é sadia àquilo que seria sua causa de existência. Uma revolta tênue, de palavras bonitas, às vezes radicais, mas sem estrutura, ação coletiva, estratégias e proposta de se organizar para concretizar - ou mesmo caminhar rumo à concretização - das mais objetivas salientações de sua existência, é admirada e por vezes cooptada pelo poder instituído. Ela é interessante às elites dominantes justamente por não oferecer um perigo real aos pilares do poder e sedar os revoltados à pasmática inércia de contestar por contestar, mesmo que nascida da crítica ao poder instituído. 

A revolta sem organização e o revoltado abstenho rumam numa direção contrária à história que supostamente carregariam. Além de legítima a revolta é de fato necessária, assim como a sua organização é enfaticamente emergencial. Portanto, o nosso avanço na história só se dará quando, antes de tudo, nos organizarmos, avançarmos coletivamente na teoria e na prática, para que sejamos não 1, mas 100, sendo 100 dispostos e com objetivos comuns acumulando força o suficiente para criar um povo forte. 

Esse nosso fortalecimento popular se dá nas bases dos movimentos sociais, nas associações / organizações comunitárias, de bairro, no movimento estudantil, sindical, de luta por terra e moradia, de direitos humanos etc. Nesse sentido, para atuar nesse movimento social com a perspectiva de empoderamento popular, é necessária a construção de uma organização, de um agrupamento de pessoas dispostas com alguns acordos firmados em um programa revolucionário elaborado coletivamente. Programa este que nasça a partir de uma perspectiva horizontal de atuação direta dos organizados no movimento social, que paute as reivindicações, os objetivos e os meios de alcançá-los, de uma maneira que determine ações práticas a curto, médio e longo prazo e que todos esses pontos sejam norteados pelos princípios básicos da existência do homem livre: a solidariedade, a igualdade e a responsabilidade - os princípios do anarquismo. 

Mas que essa organização não confunda seu papel nas lutas, que jamais deve ser de vanguarda como muitas se dispõem. A organização não deve ser maior que o povo tampouco deve determinar o que o povo deve ou não fazer; o povo não deve ser anarquista ou ser submetido a uma ideologia política e aos acordos fechados de uma organização. A organização, norteada por sua ideologia, deve servir para impulsionar, fortalecer, e não para dirigir, centralizar. A proposta dessa organização e o sentido dela existir, que é o fortalecimento do povo, é justamente para que ele caminhe com suas próprias pernas na dura empreitada do processo revolucionário de modo que ele mesmo se erga contra as injustiças e transforme a sociedade. Não há outro viés transformador que paute o povo a não ser ele mesmo em luta. Um povo forte e solidário é naturalmente um povo que tem capacidade de decidir si mesmo seus rumos. A tarefa da organização é de fortalecimento, físico e teórico, deste povo numa relação de criação mútua do poder popular, e não de se sobrepor, de se portar como pastor dum rebanho, dirigente das massas. Essa organização deve estar entre o povo, no chão, e não acima, a frente. 

É em torno desses pontos que levanto a reflexão quanto à organização, seja ela no movimento social, seja ela no aspecto ideológico para atuar com propostas de longo prazo nesse próprio movimento social. O fundamental é se movimentar coletivamente. É necessário que nos disponhamos à luta e que nos organizemos para ela. Coletivamente, de modo autogerido, federalista e horizontal, pés no chão, caminhando humildimente luta após luta na perspectiva de construir o Poder Popular para a nossa emancipação. Assim a vitória nos parece mais real e concreta do que possamos imaginar quando nos estabilizamos e permanecemos na inércia da rebeldia desorientada, enfraquecida, que não oferece abalo estrutural aos pilares da dominação. 

Da crítica nasce a revolta, que se organiza e que se amadurece. Do amadurecimento surge a nova ética, a moral solidária de classe, que é o principal sustentáculo da luta pela emancipação. Então que nos revoltemos, nos organizemos, nos amadurecemos e que criemos uma relação de solidariedade de classe, para nos unirmos, derrotar aquilo que nos subtrai a vida e, assim, alcançarmos a verdadeira liberdade e justiça.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

"Muita fé em Deus, coletividade, e pros parceiros do outro lado da muralha, paz justiça e liberdade!"

Uma operação cinematográfica nos padrões Hollywood: foi o que a Polícia Militar realizou na Praça da Liberdade; Uma operação militar nos padrões de países em guerra: foi o que a Polícia Militar realizou na Praça Raul Soares. Dezenas de pessoas presas num terror para quem tentava de algum modo se organizar e exprimir suas ideias e opiniões coletivamente. Dentre essas pessoas presas, destaco um estudante negro que fugia das bombas e foi sumariamente espancado por cinco ou seis policiais brancos que o escolheram, quebraram seu braço e o arrastaram pelo chão puxando seus dreads, já sangrando devido aos ferimentos do espancamento. Uma guerra desleal declarada pela Polícia contra o povo que protesta. Mas para que e a quem serve um órgão militar, se não para se preparar para guerras e conflitos armados nos quais existe um inimigo a se subtrair, em defesa de interesses de poucos comandantes, coronéis de Polícia e coronéis do dinheiro? 

O fato da Polícia ser militar nos responde por que suas táticas e operações adotam uma postura ostensiva de guerra. A filosofia militar presente na Polícia não lhe dá uma autoconsciência de agente da "segurança" e, nesse sentido, de atuar de modo "coerente com a realidade e com a Constituição", como ela é descrita pelo Estado e pela mídia; não, pelo contrário, essa filosofia militar lhe dá a consciência de que está permanentemente num campo de batalha onde se posiciona e se movimenta contra seu inimigo, seja qual for, na circunstância que for. 

A Polícia ser militar é uma opção estratégica para se naturalizar na instituição de "segurança pública" políticas e filosofias de repressão. A alienação da hierarquia, a transformação de pessoas em cães de guarda e a compreensão militar de inimigo de guerra que se entranham no modus operandi da PM, em suas mais internas instâncias e quadras de treinamentos nos quartéis, dão aos policiais a raiva babosa necessária para que apliquem com eficácia e consciência limpa a barbárie e o massacre ofertados pelo Estado. 

Existem práticas, discursos, métodos e vários outros elementos que compõe uma cultura criada e alimentada nos quartéis durante centenas de anos que fazem uma pessoa se transformar psicológica e corporalmente, com o porte de suas armas, cassetetes, rádios, coletes, capacetes, hierarquias, viaturas e histórias de glória e horror, em um produto vazio e meramente repressivo, um sanguinário disciplinado, um ditador em plenitude, que no fim das contas ostenta e tem em ti a personificação de todo o Estado e de sua política em voga. Torna-se um ríspido hostil, feito uma hiena que ri com desdém e maldade de sua presa se definhando quando ataca com êxito seu inimigo de guerra, ora apresentado por seus superiores nas operações das quais participa nas ruas e periferias, ora apresentado pela cultura racista e higienizadora difundida em tua instituição, no Estado e nas mídias a todo momento. Mesmo que o inimigo seja alguém que compartilha de tua realidade nas labutas econômicas todo fim de mês, como talvez no choro de um filho esfomeado, não importa para este corpo controlado pela disciplina e filosofia militar: o outro é modelado pelo militarismo como um inimigo de guerra não só da polícia mas também da sociedade. 

E, desse modo, o todo poderoso ditador no qual o Estado se manifesta e se constitui, com suas patentes e ordens a quem possa dar e submissões a quem deva acatar, sente-se legítimo para desmoralizar, xingar, oprimir, bater, algemar, prender, julgar, condenar e sentenciar as penas que lhe forem interessantes, matando, sumindo, torturando etc. Afinal, o Estado é ele e a justiça por ele pode - e deve - ser realizada. Em guerra, numa batalha bélica contra o inimigo, não há leis a não ser a tua própria, a não ser ti próprio. E assim o Estado segue massacrando o povo pobre, nas periferias e nos movimentos sociais, por meio de tuas milhares de réplicas carnificadas espalhadas pelas ruas como agentes de segurança pública. 

E não está apenas no militarismo o problema da repressão: está intrinsecamente na existência da polícia. A Polícia é o braço armado do Estado que se espalha pelas ruas a serviço do programa político e ideológico no qual este Estado se orienta, mesmo que se diga que é um órgão para garantir a segurança pública. Enquanto houver uma sociedade desigual, baseada na competitividade e na exploração, haverá sempre o temor da insegurança e, por via de consequência, a necessidade de se sentir protegido a qualquer custo. A insegurança, muitas vezes produzida e reproduzida em maiores proporções nas mídias e na cultura massificada, sempre caminhará braços dados ao sistema explorador. As classes baixas devem trabalhar, quando não trabalhar devem se marginalizar e roubar, traficar; é em teu seio que a criminalidade midiática deve permear, viralizar, que a imagem do tráfico há de se fixar, justamente para serem vigiadas, controladas e reprimidas pela segurança pública. As classes baixas devem temer a ti próprias para buscar proteção no Estado, por sua vez dirigido por classes antagônicas e que têm interesse na manutenção das coisas como elas estão - trabalho, criminalidade, vigilância e repressão. É nesse sentido, para atender a estes fins, que surgiu e que existe a polícia. 

As polícias e as prisões surgem em momentos na história que, como quaisquer outros, têm seus elementos políticos, sociais e econômicos de seu tempo. Ou seja, elas foram elaboradas, construídas e desenvolvidas por alguém e em função de algum objetivo. Por surgirem das estruturas de dominação de seu tempo, dirigidas por uma determinada classe orientada por seus próprios interesses, a polícia e as prisões já surgem, portanto, orquestradas em serviço de uma política muito bem determinada. O nascimento das prisões confunde-se de certo modo com o nascimento dos hospitais e dos hospícios: era necessário para a elite dominante despejar incômodos e desvios sociais, morais ou mesmo patológicos em detenções isoladas das cidades. As cidades europeias, séculos atrás, legitimaram e abraçaram tais políticas de higienização e encarceramento justamente por conta desse mesmo temor generalizado que hoje vemos tantos Datenas e Marcelos Rezendes, fiéis aprendizes de Goebbels, vomitarem nos canais abertos de televisão, esgoelando "chega de impunidade!", "polícia nas ruas!" e "cadeia neles!", utilizando táticas nazistas de persuasão feito papagaios propagandistas da SS. 

As polícias e as prisões surgem, portanto, para a garantia da exploração. E ainda hoje existem para tal, mesmo que prestem vários outros serviços que teriam como função contornar problemas sociais que pela história foram surgindo como consequências de problemas estruturais do capitalismo. 

E não está apenas no militarismo, nas polícias e prisões o problema da repressão e da manutenção da exploração: está, em última análise, nos seus progenitores, o Estado e o capitalismo. O capitalismo detém o Estado, que por sua parte detém o monopólio da violência. O Estado se alimenta do capitalismo para sua estruturação financeira, cultural e material, que por sua parte detém o monopólio econômico. É uma relação de reciprocidade utilitarista: estão de braços dados na missão de perpetuar o domínio de um seleto grupo de privilegiados sobre a desgraça de um massivo grupo de trabalhadores, desempregados, esfomeados, pretos, mulheres, pobres etc. 

Apesar da relação afetiva entre os maiores sistemas e instituições da sociedade conceder uma grandiosidade social, econômica e material em serviço dos interesses da dominação, ambos têm condições próprias de desempenhar tal função, mesmo o Estado distante do capital ou o capital distante do Estado. Juntos ou isolados, ambos são os problemas-raízes da sociedade desigual, segregatória e discriminatória. 

Um Estado tem as condições materiais essenciais para que se opere na sociedade políticas além da que o capital impõe. Ou seja, assim como o Estado pode defender o capitalismo, o Estado pode executar políticas de forma autônoma e paralela ao sistema econômico vigente, seja este o capitalismo neoliberal, a social-democracia radical, o socialismo de Estado marxista-leninista ou qualquer outro. O Estado tem condições de garantir regalias políticas e econômicas de grupos ou poucas pessoas que o dirigem ao mesmo tempo que ele defende e garante as estruturas da economia. Não há ideologia ou anseio nacional que ditem em totalidade a política e as movimentações do Estado.

Não há opção para a liberdade e igualdade do povo que não busque a destituição destes sistemas, num romper brusco e incisivo equivalente para ambas as estruturas. E se ainda insistem em dizer que desse modo não é possível, que o derrubar imediato do capital e do Estado está fora de cogitação para a emancipação do povo oprimido, seja por impossibilidades materiais ou seja por ditos equívocos estratégicos, remato que então é impossível que conquistemos a libertação e igualdade desejadas. Pelas vias da dominação a dominação não se desfaz: ela se reconfigura, se remodela e se prolonga. Só com a construção da liberdade e da solidariedade que alcança-se a liberdade e a igualdade. 

Desenrolo por aqui essas reflexões que surgiram junto à rebeldia decorrentes das cenas de horror que presenciei neste 7 de setembro de 2013 em Belo Horizonte, como, num primeiro momento, um certo alívio: só poderia me sentir um pouco melhor depois de desabafá-las, encontrando um pouco de calma num espírito que por muito vibrou e se estremeceu de nervosismo pelo que presenciou. Assim como, num segundo momento, porém ainda mais importante que o primeiro, em forma de solidariedade às muit@s outr@s companheir@s, que por sua vez viveram de modo mais brutal, sendo espancad@s, torturad@s, eletrocutad@s e até pres@s, enquanto a presidenta Dilma, presa e torturada na ditadura, desfilava entre oficiais militares neste desgraçado feriado da pátria. 

A estas vítimas das quais muit@s são camaradas de luta já de longa data, à todas as outras mais de 500mil vítimas que compartilham a amargura de estarem trancafiadas pelas grades do capital, como a qualquer um que sofre um abuso policial nas ruas racistas e preconceituosas deste país do coronelismo branco e elitista, dedico essas reflexões e sobretudo a razão da minha militância. 

Avante à luta contra as opressões!
Avante à luta pela liberdade e igualdade!
Avante à Anarquia!