segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

RADICALIDADE, VIOLÊNCIA E AMOR



O anarquista não ama a violência - ou não deveria. O anarquismo, em seu mais pura significado, é a fraternidade humana, o amor sincero manifestado do indivíduo para o indivíduo e assim para a sua sociedade. O anarquismo é a soberania da liberdade e da igualdade por meio da responsabilidade e do respeito. O anarquismo é a evolução moral e ética, transgredindo os princípios individualistas, egoístas, preconceituosos e desrespeitosos que hoje existem para princípios libertários que cultuam não o dogma, mas a ciência, não a força, mas a compreensão, não a violência, mas a paz.


"Anarquia, este sonho de justiça e de amor entre os homens!"

Errico Malatesta foi um grande expoente do anarquismo, que por suas palavras simples e objetivas difundiu os princípios anarquistas e expôs o sentimento revolucionário de uma forma brilhante. Mostrou que o anarquista é um revolucionário por amor à humanidade.

"Queremos a liberdade; queremos que homens e mulheres possam amar-se e unir-se livremente sem outro motivo que o amor, sem nenhuma violência legal, econômica ou física."
"Segundo nosso ponto de vista, tudo  o que tende a destruir a opressão econômica e política, tudo o que serve para elevar o nível moral e intelectual dos homens, para lhes dar consciência de seus direitos e de suas forças, e para persuadi-los a fazer uso deles, tudo o  que provoca o ódio contra o opressor e suscita o amor entre os homens, aproxima-nos de nosso objetivo e é, portanto, um bem, sujeito a um cálculo  quantitativo a fim de obter, com uma dada força, o máximo de efeito positivo. Ao contrário, o mal consiste no que está em contradição com nosso objetivo, tudo  o que tende a conservar o Estado atual, tudo o que tende a sacrificar, contra a sua vontade, um homem ao triunfo de um princípio." 

Malatesta então discute a delicada questão sobre o uso de meios violentos para essa conquista do amor entre a humanidade:

"Devemos, todavia, renunciar ao emprego de meios violentos? De forma alguma! Nossos meios são aqueles que as circunstâncias nos permitem e nos impõem. 

Evidentemente, não queremos tocar sequer num fio de cabelo de alguém, enxugando as lágrimas de todos, sem fazer verter nenhuma. Mas é necessário combater no mundo tal como ele é, sob pena de permanecermos sonhadores estéreis."

Para alcançarmos o triunfo de nossa emancipação, ou seja, de nossa libertação do antro da exploração social, Malatesta confirma que meios violentos serão inevitáveis.:

"A humanidade arrasta-se penosamente sob o peso da opressão política e econômica; ela é embrutecida, degenerada e morta (nem sempre de forma lenta) pela miséria, pela escravidão, pela ignorância e seus efeitos. Esta situação é mantida por poderosas organizações militares e policiais, que respondem pela prisão, pelo cadafalso e pelo massacre a toda tentativa  de mudança. Não há meios pacíficos, legais, para sair desta  situação. É natural, porque a lei é feita pelos privilegiados para defender expressamente seus privilégios. Contra a força física que barra o caminho, não há outra saída para vencer senão a força física, a revolução violenta."

Sem mais delongas, propagandeamos e devemos sempre propagandear os nossos principais pilares de nossa proposta de organização social e também nossas propostas de mudança social para alcançarmos esses objetivos.

Nesse aspecto, quando defendemos meios radicalizados de luta, não os defendemos por amor à violência, mas pelos seguintes motivos:

I) Toda luta que travamos contra o Estado e o capitalismo é uma reação à injustiça que sofremos, e por isso temos toda legitimidade moral para fazê-la;

II) A radicalidade dessas lutas deve ser uma de suas características primordiais, uma vez que o capital, personificado no mega-empresário, no Estado e em todos seus aliados, não mede esforços para aumentar seus lucros e suas regalias, sabendo que esse aumento de lucros e regalias diz respeito diretamente ao nosso sufoco e sofrimento;

III) Compreendendo que violência gera violência, defendemos veementemente o amor e a solidariedade da humanidade - o que só é possível vindo do seio de nossa classe - e é por isso que seremos violentos em nossas ações quando for necessário. Não devemos reproduzir o discurso de que só os meios pacíficos são legítimos e que devemos abominar quaisquer meios violentos. Esse é um típico discurso burguês que os grandes veículos de informação corporativistas insistem em transmitir para frear medidas populares mais intensas, justamente por saberem que somente essas medidas causam receio à classe dominante, enfraquecem seus tentáculos de dominação, conquistam realmente suas reivindicações e fortificam o poder popular;

IV) O poder instituído é bruto e covarde com o povo em todos os aspectos, seja no aspecto moral, seja no aspecto econômico, no político e no social. Trabalhamos e enriquecemos empresas e governantes, nosso imposto enriquece empreiteiras, bancos e outras mega-empresas privadas, nossos salários são baixíssimos e nossas condições de vida são precárias, nossas escolas adestram nossos filhos à inércia da cultura do egoísmo e do mercado de trabalho e, quando saímos às ruas, somos recebidos à pancadas, bombas de gás lacrimogêneo, cavalaria e detenções que evidenciam a nossa criminalização social. Violência sofremos todos os dias e todas as horas, desde as propagandas na televisão até os assassinatos não publicados na mídia de trabalhadores rurais ou jovens negros de periferia. Que levantemos e devolvemos a violência a qual nos submetem aos responsáveis pelas desgraças sociais.

Nessa perspectiva, defendemos a violência quando necessária e a radicalidade como fator permanente. Radicalidade não implica em violência, radicalizar é ser ousado e inclusive condizente com sua realidade, que anseia por mudanças drásticas em suas raízes. Uma greve pode ser radicalizada, por exemplo, sem o derramamento de uma gota de sangue, sem um confronto com o choque. Mas, ressaltando, havendo alguma ação truculenta do Estado, a reação deve ser imediata, organizada e de maior força, para garantir nossa integridade e nossos princípios.

Uma luta popular radicalizada é uma verdadeira luta popular, sem temer ao Estado, sem temer ao capital e com o espírito puro e revolucionário, saudando seus camaradas de luta e fortalecendo a construção de uma tão desejada nova realidade.

Referências:


MALATESTA, Errico. Capitalistas e Ladrões. Itália, Il Risveglio anarchico, março de 1911.
MALATESTA, Errico. Um Pouco da Teoria. Itália, Umanità Nova, 1982.

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