sábado, 28 de janeiro de 2012

RESISTÊNCIA ANARQUISTA E ANTIFASCISTA NO PERÍODO VARGAS

Boletim do Núcleo de Pesquisa Marques da Costa - Ano 2 - Nº 5 - Novembro de 2006
Endereço: caixa Postal 14576, Cep 22412-970 - Rio de Janeiro


Emma Neri e Nello Garavini, no Uruguai.
Há um período pouco conhecido do anarquismo carioca. Entre 1929, quando o sindicalismo revolucionário perdeu toda sua força no então Districto Federal, até o final do Estado Novo em 1945, quando os anarquistas se reagruparam e lançaram no ano seguinte o jornal Ação Direta, há uma espécie de lacuna em nossa história. Essa nuvem foi parcialmente dissipada quando recebemos no ano passado a visita do companheiro italiano Gainpiero Landi, que veio à cidade maravilhosa pesquisar a trajetória brasileira do anarquista Nello Garavini (1899-1985) e de sua companheira Emma Neri (1897-1978). Perseguidos pelo estado fascista italiano, chegaram ao Rio em 1926, trazendo sua filha Giordina, nascida em outubro de 1924.


Nos primeiros tempos, foram apoiados pelo tio de Nello, Antonio Garavini, um anarco-individualista que vivia no Rio desde a virada do século. Nello trabalhou como camareiro no Hotel Glória e Emma como professora. Em 1928 e 1929, Nello atuou no Centro Cosmopolita, onde o embate entre anarquistas e bolchevistas era intenso. Na Liga Anticlerical, conheceram seu fundador, José Oiticica, e lá passaram a manter contato permanente com os anarquistas e anti-fascistas locais, muitos desses italianos exilados. No segundo semestre de 1932, foi realizada na Liga uma emocionante homenagem a Errico Malatesta, morto em 22 de julho daquele ano, a quem Nello havia conhecido e tinha como maior referência política.

Em 1933, os Garavini abriram na Praça Tiradentes, ao lado da entrada do teatro Carlos Gomes (rua Dom Pedro I, número 2), a "Minha Livraria", um espaço que serviu até 1942 como ponto de encontro e de acaloradas discussões dos anarquistas e anti-fascistas. Em 1935, no rastro repressivo da "Intentona Comunista", a Liga Anticlerical foi fechada e a livraria posta sob permanente observação pela polícia carioca. Com a eclosão da guerra na Espanha, em 1936, mesmo com o incremento da repressão, os frequentadores da "Minha Livraria" buscaram reunir voluntários para lutar na guerra. Libero Battistelli, um grande anti-fascista e o melhor amigo dos Garavini, seguiu para a Espanha e veio a morrer no ano seguinte combatendo na frente de Huesca. Mesmo durante os mais negros anos do Estado Novo varguista, a livraria resistiu bravamente, sempre sob os ataques da polícia e as provocações dos fascistas locais.

Com o fim da grande guerra, os Garavini, resolveram tetornar à Itália, o que fizeram entre 1946 e 1947. Fixaram residência na cidade natal de Nello, Castel Bolognese, onde passaram a atuar no grupo anarquista local e aderiram à Federação Anarquista Italiana (FAI). Em 1973, os Garavini e outros companheiros fundaram a Casa Armando Borghi, sede dos grupos anarquistas e de uma biblioteca libertária. Ainda hoje, Giordana Garavini, com 83 anos, participa da gestão deste espaço libertário.

Renato Ramos

Nenhum comentário:

Postar um comentário