quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

MARXISTAS ORTODOXOS E O ANARQUISMO

Dezembro de 2011.
PRÉVIOS ESCLARECIMENTOS:

Dissidência política não deve enfraquecer o povo!
Primeira e primordialmente, deve ficar claro que não tenho como objetivo incitar intrigas e sectarismos com companheiras e companheiros marxistas que em conjunto militamos e que tenho um enorme prazer de conhecê-los. A luta contra o capitalismo só se dá quando existem união e organização popular, e união popular diz respeito à união geral da classe trabalhadora, sem preconceitos e disputas de tendências dentro da luta social. Por essas considerações e também pelas minhas próprias práticas de militância, espero deixar claro meu ávido repudio a tais posturas e minhas saudações àqueles que também compreendem isso.

Por isso, antes de desenvolver minhas críticas, me sinto no dever de dizer aos meus camaradas que tratarei de responder as históricas acusações infundadas de vários marxistas ortodoxos, certamente os mais sectários e intriguistas da esquerda comunista. A linearidade de minha argumentação se dá pela linearidade do texto de Ángel Luis Parras, publicado pela LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores da Quarta Internacional), em seu site.


INTRODUÇÃO

Às vezes ser anarquista é bastante laborioso: difamações de um lado, perseguições de outro, críticas infundadas aqui, ironias ali... De fato nós compreendemos o quão é difícil lidar com os preconceitos quando nos reivindicamos como anarquistas, mas se nos reivindicamos como tal é nossa função o esclarecimento e a constante propagação de nosso programa e nossos reais objetivos àqueles que, por querer ou sem querer, insistem em ter e transmitir uma visão deturpada das coisas.

Em algumas ocasiões essas confusões chegam a ser vergonhosas, como por exemplo, quando a esquerda marxista toma a si discursos pífios demonstrando ou falta de conhecimento (o que não seria muito bem admissível) ou insistência em críticas generalizadoras com objetivo apenas criticar por criticar, praticando uma perseguição imatura.

Somos chamados de desordeiros pelos conservadores, de utópicos pelos liberais e de “pequeno-burgueses” ou “liberais” por vários marxistas. É interessante que, para salientar alguma orientação política, seja ela conservadora, liberal ou marxista, é necessário no mínimo um estudo básico para entender a história das coisas e, assim, poder ter bases para criticar e defender algo. Por isso, quando insistem em nos remeter esses adjetivos pejorativos, geralmente o que nos vem à cabeça é que, se aquela pessoa de fato não sabe o que é anarquismo, sua história e seus programas, ela não tem fundamento para criticá-lo, ou, se aquela pessoa conhece e permanece nesse “denuncismo” fajuto, hipócrita é o adjetivo mais adequado para designá-la.

Essa reflexão é importante para, além de dar uma introdução a outras reflexões deste texto, servir mesmo como uma resposta à altura a todas as difamações que sofremos desde a época de Proudhon¹.


“OS MARXISTAS” E SUAS ACUSAÇÕES CEGAS E JÁ CONHECIDAS

Neste texto que motivou a discutir alguns assuntos importantes nos deparamos, para variar, com as acusações tradicionais de vários marxistas, nos chamando de “anarcoliberais”, nos generalizando como individualistas, pequeno-burgueses e até mesmo antissocialistas². Nada novo, apesar de refutarmos durante toda a história tais generalizações através de discussões ou mesmo de ações práticas.

Sempre devemos deixar clara a história do anarquismo e dos anarquistas. Remeter ao anarquismo uma ideia integralmente liberal é remeter ao marxismo uma ideia integralmente stalinista, ou uma ideia integralmente maoísta. Existem tendências em todas as linhas de pensamento que agregam grandes objeções políticas, sociais e econômicas. O que é imprescindível entender é que somos anarquistas por sermos socialistas libertários. Não cabem, não couberam e nunca caberão quaisquer doutrinas liberais no socialismo libertário. O socialismo libertário é a luta da classe trabalhadora e dos demais oprimidos e explorados contra o capitalismo, a propriedade, o latifúndio, a Igreja, o Estado e a moral capitalista, preconceituosa, machista e individualista. Prezamos pela organização direta da classe trabalhadora na política e na economia; em nossos programas, deixamos claro que para conquistar essa nossa emancipação efetivamente devemos ser organizados e disciplinados durante o processo pré-revolucionário e sobretudo no próprio processo revolucionário.

Além dessa nossa postura classista e revolucionária, infelizmente existem algumas pessoas e grupos que se reivindicam anarquistas por, ora quererem ostentar um status diferente do padrão, ora justificar vossas rebeldias, ora serem realmente pequeno- burgueses individualistas, abstenhos, pós-modernos, que em muitas ocasiões não poupam em criticar a esquerda por esta defender a organização e a revolução. Esses, em nossa visão, são um dos maiores empecilhos para o socialismo libertário, pois, além de difundir uma concepção generalizada e errônea sobre o que nós, anarquistas socialistas, pensaríamos, algumas vezes estão em ambientes comuns aos nossos, causando um choque e confusão de nas demais pessoas e organizações. Nosso trabalho de difusão do anarquismo insiste no esclarecimento dessa diferença acentuada de princípios.

Por isso, companheiras e companheiros, a generalização do anarquismo não deve servir de base argumentativa para nenhuma crítica direcionada ao socialismo libertário. Por isso, companheiras e companheiros, é vergonhoso tentar criticar o anarquismo revolucionário e classista insinuando que nos familiarizamos com o individualismo quando houve, como diz o texto, “Um ataque generalizado de febre liberal”, atribuindo expressões pejorativas como “ideias anarquizantes”.

É vergonhoso também citar uma passagem reacionária de um texto que não salienta de maneira alguma nossas causas anarquistas: “em tempos de decadência todo mundo é anarquista, os que o são e os que se ufanam de não sê-lo. Pois cada qual toma a si mesmo como regra” (“O Banqueiro Anarquista”, de Fernando Pessoa). Se nos é revoltante ler passagens como esta, mais revoltante é uma dita esquerda reproduzi-la.

A “NOVA IDEIA” TÃO CRITICADA PELOS MARXISTAS E O CIENTIFICISMO COMO DÓGMA

Ángel Luis Parras se preocupou em criticar fervorosamente a, chamada por ele, “nova ideia”, “nova verdade”, que é a proposta política de Holloway de mudança social, caracterizada pela dissolução imediata do Estado. Para criticar Holloway, Parras não poupa de insinuar que nós anarquistas somos “antipoder” e que ostentamos “uma febril versão liberal das teorias do antipoder e da antipolítica”.

O interessante de vários marxistas é justamente essa ânsia pelo cientificismo de suas orientações, julgando o marxismo científico, fundado no todo poderoso “materialismo dialético”, como uma lei universal, um dogma no qual jamais existirão erros e julgam certo que todos os demais não-marxistas, além de estarem vulneráveis ao erro, já erraram e vão sempre errar. Para Parras somos místicos, assim como para seus demais companheiros somos utópicos, desorganizados.

Certamente, não temos Marx como um inimigo ou o renegamos cegamente, pelo contrário, o socialismo evidentemente tem Karl Marx como uma de suas bases fundamentais. Nossa crítica, no caso, não é ao materialismo, por exemplo, e sim aos caóticos que o fazem ser uma espécie de religião, algo imutável.

Como Parras afirmou, de fato essa “nova ideia” não é uma ideia nova. O socialismo libertário nasceu justamente dessa cisão entre marxistas, que propunham uma tomada do Estado e torná-lo assim uma ferramenta revolucionária, e entre os demais socialistas, que defendiam que o Estado seria um atraso da revolução. Entretanto, o que nós defendemos não tem muito em comum com o que Parras expôs, citando cautelosamente as propostas de Holloway. Não defendemos um “arquipélago de poderes”, uma “construção de autonomias” da maneira tendenciosa que é exposta no texto. Defendemos o poder popular, a tomada das fábricas, das cidades, do comércio, dos latifúndios, da economia e das decisões politicas para os trabalhadores. Realmente enfatizamos a construção de uma moral baseada nos princípios da autonomia de pessoas e de grupos, assim como nos princípios da solidariedade e da autodisciplina. O fato de não defendermos o Estado para a revolução não implica que defendemos a descentralização integral, a desorientação da organização social e revolucionária. Em nossas concepções, é enfaticamente necessária a organização concreta de todas e todos, que agregue todas as foças e frentes, para triunfar nossa emancipação e nossas maiores objeções.

A insistência de Parras em denunciar que essa “novidade” já é velha talvez não o fizesse se olhar no espelho. Suas propostas revolucionárias, baseadas no tão científico marxismo, foram por muitas vezes “aplicadas” em revoluções em todo o mundo. A questão é: alguma obteve êxito de fato? Alguma conquistou seus reais objetivos? A experiência da URSS, por exemplo, alcançou seu objetivo? Se a resposta for afirmativa, realmente temos dissidências muito críticas, até mais do que pensávamos, pois a URSS jamais alcançara o objetivo que penso ter em comum com os marxistas, que é a sociedade sem classes, sem Estado e organizada pelos trabalhadores.

Dessa maneira, enquanto insiste em nos remeter a ideia de que não propomos nada novo e que o que propomos é falho, ele simplesmente deseja não ver que tuas propostas também não são nada novas e que também estão sujeitas ao erro.

A GUERRA CIVIL ESPANHOLA: DA GLÓRIA AO ERRO CRUCIAL

Em 1936, o povo espanhol travou uma guerra armada contra o capitalismo, o latifúndio, o Estado, a Igreja, o machismo, o franquismo, o fascismo e o nazismo. Parras explica a situação do proletariado da Espanha durante a guerra civil: “Comitês revolucionários em todos os lugares, barricadas, as fábricas nas mãos dos trabalhadores, operários armados constituindo milícias e patrulhas de controle, organizando a distribuição, o transporte, a saúde...”. Certamente essa citação seria um motivo de orgulho para diversos revolucionários. Entretanto, Parras mais uma vez argumenta contra os métodos anarquistas de organização da revolução, classificando negativamente essas ações como um “arquipélago de poderes operários”.

Sendo forçoso ressaltar, devemos compreender que o socialismo é a socialização dos bens de produção e das terras, a organização da economia e da política nas mãos de quem trabalha e sustenta a sociedade, é a ética fundada na solidariedade e igualdade de nossa classe, sem distinções sociais e sem classes (o que compreende que seja sem patrões e inclusive sem generais, comandantes, enfim, sem a estrutura estatal). Muitos entendem socialismo como a fase transitória marxista da revolução, mas a expressão socialismo nos representa a essência da luta dos trabalhadores desenvolvida desde os séculos XVIII e XIX, e que deveria ter sido mantida por alguns marxistas que também se julgam socialistas. “fábricas nas mãos dos trabalhadores”, “operários armados constituindo milícias e patrulhas de controle, organizando a distribuição, o transporte, a saúde...”, “Comitês revolucionários em todos os lugares”, o que, nestas citações de Parras, não está de acordo com as propostas socialistas? Certamente é por tua convicção sobre organização revolucionária – a qual está bitolada na falácia de que organização implica em Estado centralizado e burocrático - que Parras atribui essas críticas ao proletariado espanhol. Todavia, independente de suas concepções marxistas, é inegável que esta experiência fora uma das mais triunfantes da história dos levantes populares contra o capital.

Precisamos discutir com cautela essa questão da guerra civil espanhola. Muitos de nós anarquistas temos conhecimento das causas cruciais que determinaram a derrota do proletariado na guerra e admitimos, sem nenhum orgulho ou rancor, que algumas falhas nossas foram determinantes. Dos erros sofremos, às vezes demasiadamente, mas dos erros, se não formos orgulhosos, podemos fazer uma autocritica e amadurecermos. Esse ponto é importantíssimo para a esquerda em geral, pois de todos nossos levantes, nenhum alcançaram o êxito pleno. Erramos no passado, ainda erramos e é certo que ainda iremos errar.

A falta de foco na organização política foi realmente um dos pontos negativos fundamentais dos libertários. Grupos anarquistas durante a guerra civil já denunciavam algumas medidas da FAI-CNT que desencadeariam no fim do sonho socialista, como o grupo Os Amigos de Durruti ³. A FAI-CNT, apesar de organizar com muito mérito a economia em geral, coletivizando as fábricas, o comercio e os campos, pecou no que diz respeito à coerência de um programa político sólido, o que era de caráter emergencial.

Um exemplo é a própria citação de Parras sobre Garcia Oliver e a direção da CNT-FAI que passaram a apoiar a campanha de Companys. Na falta de um programa político determinado que orientasse a revolução social, a CNT-FAI, mais especificamente seus dirigentes, se perderam no antro da esquerda republicana institucionalizada, fadando toda a base revolucionária das ruas ao retrocesso e à iminente derrota.

Além das falhas da CNT-FAI destaca-se a intervenção reacionária stalinista na guerra civil, militarizando as milícias populares, perseguindo e assassinando militantes anarquistas, criando um péssimo conflito armado entre as próprias classes populares, o que as enfraqueceu e com isso determinou a vitória das tropas franquistas.

O que se deve entender, então, é que temos sã consciência de nossos erros e abdicamos do orgulho de tendência predominante na esquerda em sua totalidade. É a partir dessa infeliz experiência histórica que hoje temos exemplos práticos que orientam e devem orientar nossas lutas e os processos de organização em geral.

ESTADO, IDEALISMO E CIENTIFICISMO MARXISTA

A bajulação do marxismo como ciência imutável sempre existirá enquanto existir algum marxista ortodoxo. A insistência em nos atribuir como idealistas não cessa, assim como os argumentos para essa atribuição nunca mudam. Pelo fato de considerarmos o Estado como um empecilho à revolução social, mesmo seguindo um socialismo materialista e apresentando um programa revolucionário baseado na tomada do poder social pelos trabalhadores e na resistência armada destes contra os capitalistas, continuamos sendo taxados de idealistas.

Atribuímos ao Estado a responsabilidade da dominação de uma classe sobre a outra e por isso não o apresentamos “à maneira hegeliana, como o subproduto da ideia moral”. Realmente o Estado é um aparato estruturado de manutenção do poder social e é justamente essa a nossa crítica. Para evitar prováveis e previsíveis criticas de marxistas, deixemos claro que não repudiamos o poder pelo poder, a dominação pela dominação; repudiamos, assim como todo socialista deveria repudiar, a dominação social de uma classe sobre a outra. Na tomada e fortificação do Estado durante a revolução, as classes sociais já existentes não cessam, obviamente, mantêm-se os revolucionários e a reação, sendo esse o argumento- base marxista para defender a tomada do Estado. Todavia, nessa fortificação do Estado e inegável verticalização da classe trabalhadora, novas classes sociais naturalmente são desenvolvidas, a de generais, vanguarda, comandantes e a das massas, dos subordinados. Ser idealista é negar essa cisão dentro da classe que protagoniza a revolução; ser idealista é forçar a crença de que isso não seja um empecilho à luta revolucionária.

De um modo objetivo e claro, Bakunin previa as consequências negativas das propostas do socialismo autoritário:

“Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.”

Estado não é o exclusivo sinônimo de organização social, de organização do trabalhador para sua emancipação. Claramente o Estado pode suprir muitas necessidades fundamentais de defesa e de avanço revolucionário, esse é um ponto indiscutível, mas, claramente também, não é ciência a exclusiva necessidade do Estado para saciar tais necessidades.

Esses fatos que nos fizeram romper dentro do socialismo, desde a I Internacional, foram naquela época levantados pelos socialistas libertários e, nas diversas revoluções marxistas do século seguinte, foram os fatores pelos quais barraram a conquista dos objetivos do socialismo. Por isso, como Parras pode afirmar que “Toda a experiência revolucionária da classe operária desde a Comuna de Paris, em 1871, até os dias de hoje mostra que não há a menor opção de transformação revolucionária da sociedade, de acabar com o capitalismo e o imperialismo, sem a destruição do Estado burguês e sua substituição transitória por um poder operário, por um Estado dos trabalhadores”, se jamais essas experiências revolucionárias que foram submetidas a uma “substituição transitória por um poder operário, por um Estado dos trabalhadores” alcançaram os objetivos primordiais?
                                                                                      
O mundo já vivenciou no século XX as revoluções populares que frisavam tomar o Estado como ferramenta de luta e por isso já temos experiências fundamentais para guiarmos uma luta mais eficaz neste século XXI, caracterizado pelos levantes árabes e dos povos de todo o mundo, que estão gradativamente sofrendo mais com os ataques neoliberais dos estados capitalistas em crise. Diferente dos cientificistas, não podemos afirmar qual método é o método exclusivo de realizar a revolução, cada país e cada povo tem suas características próprias e sua conjuntura que interfere diretamente no método de luta a ser realizado. Mas, como anarquistas, continuamos a desenvolver nosso programa libertário e propagandeá-lo, a desenvolver nosso solo teórico e a trabalhar pela constante resistência dos trabalhadores ao capitalismo, ao Estado e ao neoliberalismo que faz bilhões de vitimas no mundo todo.

A luta deve continuar, deve crescer em todos os cantos do mundo, independentemente das dissidências das esquerdas; a luta social é imediata e urgente e não deve ser sucateada pela nossa cisão política, assim como o capitalismo se organiza e se articula, mesmo com tendências conservadoras e liberais em seu seio. O importante é, antes de marxismo e anarquismo, o fortalecimento do trabalhador na luta contra o patrão.











NOTAS:

¹ Joseph-Pierre Proudhon foi um anarquista francês do século XIX, considerado um dos mais importantes de toda a história. Seus diálogos com Karl Marx se tornaram históricos.

² No terceiro parágrafo, Parras diz:

“A história da luta de classes está repleta de exemplos destas condutas e os acontecimentos de 1989, com a queda do muro de Berlim e dos regimes stalinistas, foram fonte de inspiração de inumeráveis correntes e intelectuais que, considerando que ‘o socialismo morreu’, acabaram ‘jogando fora a água suja com a criança dentro’ e empreendendo a busca desesperada pela ‘nova verdade’”.

Parras reforça uma ideia caluniosa de que afirmarmos que “o socialismo morreu” quando caiu o Muro de Berlim, um absurdo uma vez que jamais consideramos a URSS como o principal e único exemplo de aplicação do socialismo e por nós nos posicionarmos como primordialmente socialistas.

³ Em junho/julho de 1939, o grupo franco-espanhol AMIGOS DE DURRUTI lançam uma carta intitulada Os Amigos de Durruti Acusam, fazendo uma análise sobre a derrota do proletariado na guerra civil espanhola.

Pode-se ler:

“Quebrando o silêncio que nos foi imposto pela tirania dos estalinistas e outros contrarrevolucionários, continuaremos falando com a clareza que sempre utilizamos no órgão de nosso grupo "O Amigo do Povo" . Nosso grupo, que escolheu como símbolo Durruti, tem ocupado um lugar importante na revolução espanhola. Assim foi, nos dias sangrentos de maio de 1937, quando empunhamos a bandeira da revolta e combatemos os contrarrevolucionários (o P.C., o governo republicano etc.) assim como o reformismo dos dirigentes da CNT-FAI. [...]

Além de não impor uma ditadura sobre os partidos antiproletários, os dirigentes da CNT-FAI se tornaram assistentes dos liberais burgueses, da pequena burguesia e do capitalismo internacional, os quais, sob a máscara da democracia, serviram ao fascismo. Portanto, os dirigentes da CNT-FAI derrotaram a revolução espanhola.[...]

Durante a revolução espanhola, houve dois momentos decisivos: julho de 1936 e maio de 1937. Nessas duas ocasiões, o mesmo erro foi cometido. Os líderes da CNT-FAI não impuseram o poder de nossas organizações, que eram apoiadas pelas massas nas ruas, fábricas, campos e outros locais de trabalho. Esses líderes foram, portanto, os maiores responsáveis pelo desastre que aconteceu - a perda da revolução, a derrota militar na guerra e o sangrento exílio na França. Eles temiam a intervenção estrangeira. Não assumiram a direção econômica e política do país para não suscitar a hostilidade dos ‘ditadores’.

Mas, recusando-se a liderar a revolução, nem por isso a abandonaram: eles começaram a derrotá-la. Seu medo foi responsável pela contrarrevolução, pelo fato de os estalinistas terem tomado a terra dos camponeses e trabalhadores. Esse foi o maior fator na quebra da unidade revolucionária das massas.[...]”

O texto integral você encontra em:

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