quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

CURTAS: DO CAPITALISMO E DA PRODUÇÃO


A discussão acerca do capitalismo e de suas sobejas feridas à humanidade é tão rica, tão vasta e tão completa que, além de não caber em um pequeno texto, vários pontos não são necessários serem discutidos tampouco aprofundados aqui. O que se levanta aqui é uma pequena - pode-se ler mínima - reflexão sobre alguns pontos de produção e algumas metas que nós, anarquistas, devemos sempre afirmar ou mesmo prosseguir com seu desenvolvimento teórico e prático.

Como via de introdução e para reafirmar nossa postura e nosso objetivo, somos anarquistas por duas condições primárias, sendo uma a consequência da outra: almejamos uma humanidade internacionalmente livre; e somos trabalhadores que temos como objetivo, nas atuais condições sociais que nos encontramos, cessar a exploração do homem pelo homem, o que subtende-se cessar o capitalismo e o Estado.

É incrível a inércia capitalista de produção atravessar séculos em vigor extraordinário e, mais incrível ainda, é crer nessa produção, tratá-la como uma produção justa em potencial ou mesmo crer que alguns projetos sociais de alguns governos suprirão as falhas e contradições que são a máxima identidade do capitalismo.

O capitalismo é o assassinato da dignidade dos produtores, pois vos ataca de um modo sombrio sob diversas formas: explora o vosso trabalho; vos chantageia, submetendo-vos ao trabalho alienante e intenso por toda a vida; vos priva do justo consumo daquilo que produzem como também das ferramentas de trabalho; vos priva da terra para produzir; vos afeta com a austeridade generalizada, a inflação, o desemprego em massa, etc. quando tua crise financeira ataca, crise esta estourada pelos próprios capitalistas e suas disputas financeiras no mundo virtual das especulações e transações milionárias; pelo poderio econômico, centraliza a informação e com isso controla a opinião geral, os costumes, a cultura massificada e reproduz a moral capitalista e individualista como inerente à alma humana; vos priva, além dos meios de produção, além das terras, outros pontos primordiais para a vida, como moradia, saúde, educação, lazer etc.

A economia capitalista dá-se em função do acumulo de capital e de propriedade, o que eventualmente legitima a exploração de alguns poucos sobre outros milhares. Para a manutenção de tais regalias, milhões estão submetidos ao mercado de trabalho inumano, outros milhões estão desempregados, com ainda mais outros milhões estão sem moradia. Devemos - e temos isso em mãos - nos organizarmos a nós mesmos para que nossa produção saliente as nossas necessidades, para que não mais sustentamos parasitas e que não mais vivamos, nem um de nós, em estado de miséria.

É necessário, então, fazer ruir todas as problemáticas criadas pelo capitalismo - e que são vosso sustentáculo - que nos deterioram a vida e que nos jogam na miséria, uma vez que tais problemáticas são os muros que privam o homem de desfrutar de fato daquilo tudo que tem para produzir, que produz e como deveria distribuir. A propriedade, o lucro, o imposto, o juro, o salário e o até desemprego figuram como algumas destas problemáticas da máquina de exploração capitalista. Ruir essas problemáticas - que é inevitavelmente ruir o capitalismo - é dar caminho à glória econômica do homem e, como consequência, à tua glória social e política.

E que entendamos: só faremos ruir o capitalismo e seus tenebrosos tentáculos por meio de nossa solidariedade classista, do reconhecimento de nossa identidade comum - a de humanidade livre - e que são, também, os pontos fundamentais sobretudo para a construção e o desenvolvimento dessa nova organização econômica, social e política, por ser naturalmente fundada sob nossos anseios e nossas condições de vida, coletiva ou individual.
"O Capitalismo nem sequer é capaz de aproveitar a totalidade dos recursos oferecidos pelo primeiro fator de produção (a Natureza), como se pode ver pelas grandes extensões de terra deixada por cultivar, pela capacidade hídrica inexplorada e por todas as matérias-primas que não são aproveitadas.
No que diz respeito ao trabalho humano, intelectual ou manual, nem sequer é preciso mostrar que o sistema capitalista não aproveita nem mesmo metade da sua capacidade. Existem hoje em dia dezenas de milhões de trabalhadores sem emprego espalhados por todo o mundo. Os profissionais e os cientistas vagueiam, vegetam e sofrem privações, sem meios para dar uso aos seus conhecimentos e experiência profissional. Só um número muito restrito de profissionais e cientistas é que consegue vender com sucesso os seus serviços aos potentados do regime capitalista.
Também é bastante evidente que o terceiro fator de produção, a indústria, está a ser usado muito abaixo baixo das suas reais potencialidades. Foram criados inventos prodigiosos e aparecerão ainda maiores invenções no futuro, mas elas dificilmente são postas a trabalhar durante mais do que algumas horas num único dia, ou então durante apenas alguns dias por semana.
[...]
Por isso, o sistema capitalista tornou-se impraticável, uma vez que já não consegue extrair o máximo rendimento de nenhum dos três factores de produção."
 
Diego Abad de Santillán em O Organismo Econômico da Revolução.

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